Laura (Rashida Jones) é uma escritora que vive ocupada com a casa e suas duas filhas na cidade de Nova York. Seu esposo, Dean (Marlon Wayans) anda bastante ocupado com a ampliação de seus negócios e não lhe dá mais a mesma atenção de antes. Eis que um dia ela fica desconfiada do comportamento dele e começa a suspeitar que ele tem uma amante, no caso Fiona (Jessica Henwick) que passa mais tempo perto dele do que a própria Laura. Para piorar, ela conta as suas impressões para o pai, Felix (Bill Murray), um bon vivant endinheirado que resolve desmascarar o esposo da filha. Esta é a história do novo filme se Sofia Coppola que foi produzido para a Apple TV e o resultado é o filme mais despretensioso da diretora e, ao mesmo tempo, mostra-se o mais convencional também. Rashida Jones até convence de que sua personagem é uma mulher comum, pelo menos até percebermos que seu pai come caviar no carro, frequenta restaurantes chiques e viaja para o México como se fosse comprar um pão ali na esquina. Sofia Coppola apresenta aqui uma história sobre personagens sem problemas financeiros e que gravitam na alta roda de Nova York, mas não soa artificial nesta construção, uma vez que a diretora conhece bastante este meio. A trama e a graça giram em torno das diferenças entre pai e filha, que se amam, mas tem maneiras muito diferentes de enxergarem o mundo. A maioria das falas de Felix são compostas de falas antiquadas, em sua maioria machistas, que aos poucos fermentam aos ouvidos de sua filha até que ela não aguente mais e lhe diga algumas verdades sobre uma verdadeira mancha no relacionamento dos dois. Nem precisa dizer que Bill Murray está bastante confortável neste personagem que marca seu reencontro com Sofia, responsável por sua atuação mais elogiada em Encontros e Desencontros/2015 . Este novo trabalho gerou grande torcida para que o ator seja lembrado nas categorias de coadjuvante nas premiações que se aproximam), mas convenhamos que ele não faz nada muito diferente do que já fez (mas faz tão bem que a gente nem liga). É ele que segura o filme quando ele perde o ritmo e se torna um tanto repetitivo em sua "brincadeira de detetive" que promove uma reconexão entre pai e filha. Há de se destacar também o bom trabalho de Marlon Wayans em um personagem simpático e dotado de certa ambiguidade para que a história mantenha certo suspense até o final. Eu não consigo parar de pensar que a escalação do ator é efeito direto das duras críticas feitas à diretora por uma filmografia sem trabalhos com atores negros, aqui ela coloca vários coadjuvantes de várias etnias, o que confere maior autenticidade à cidade mais globalizada dos EUA (apresentada como um lugar em que os personagens estão sempre com pressa para chegar a algum lugar). Embora On The Rocks não é realizado para ser levado muito a sério (afinal, quem espiona os outros dirigindo um conversível vermelho?), seus diálogos tocam em um ponto interessante sobre a forma como direcionamos nosso olhar para comprovar o que suspeitamos (obviamente que o roteiro também é cheio de pegadinhas para confundir Laura e o espectador), mas se você não exigir muito verá que ele é divertido em sua proposta e renderia uma ótima Sessão da Tarde feita com o capricho estético de sua diretora.
On The Rocks (EUA-2020) de Sofia Coppola com Rashida Jones, Bill Murray, Marlon Wayans, Jessica Henwick, Jenny Slate e Lyianna Muscat. ☻☻☻
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