segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

PL►Y: Estranha Presença

 
Gleeson, Ruth e Will: medo de ser terror. 

Quando terminei de assistir Estranha Presença eu só fiquei imaginando quem teve a ideia de entregar a adaptação do livro de Sarah Waters para o diretor Lenny Abrahamson. A obra de Sarah tem aquele climão de terror clássico sobre casas mal assombradas e à primeira vista não tem nada que possa ter sintonia com a obra do cineasta irlandês. No entanto, se você lembrar que o diretor indicado ao Oscar por seu trabalho em O Quarto de Jack (2015) adora personagens com traumas psicológicos, ele parecia uma boa escolha, ainda que arriscada - e o risco se concretiza em todos os problemas que esta adaptação possui. O filme conta a história de uma mansão inglesa decadente, cenário de várias tragédias. É neste casarão que vive a família Ayres, conduzida pela matriarca, Senhora Ayres (Charlotte Rampling) que ainda ressente a morte de sua filha favorita, a pequena Susan. Para a melancólica Caroline (Ruth Wilson) restou cuidar da casa que está caindo aos pedaços e zelar pelo irmão, Roderick (Will Poulter) que sobreviveu a guerra repleto de queimaduras, sequelas e deformidades. Quando o jovem doutor Faraday (Domhnall Gleeson) vai até aquela casa sombria para um atendimento, ele relembra o dia em que ainda era criança e a visitou pela primeira vez. Logo de início existe a sugestão de afinidade entre o doutor e Caroline, assim como sua preocupação com as condições físicas de Roderick. Assim, eu seu primeiro ato o filme é conduzido como um drama soturno eficiente, mas as coisas começam a ficar estranhas quando Roderick ressalta que existe algo de estranho na casa e uma sucessão de tragédias começam a acontecer. Quando digo que as coisas ficam estranhas é que a tarefa do diretor parece enxugar qualquer efeito que o horror possa ter na trama ou no expectador. Os fatos são apresentados quase que isoladamente, sem que receba muita atenção no decorrer da história (a única cena feita no capricho é a de Charlotte Rampling trancada no quarto em puro desespero), talvez a proposta seja que as circunstâncias bizarras sejam encaradas com o olhar cético de um homem da ciência, no caso, o doutor Faraday (que tem uma cena de tribunal que poderia ser o trunfo do filme, mas que resulta apenas sonolenta). Domhnall Gleeson é um bom ator quando interpreta bons moços, mas tem sérias dificuldades quando tem em mãos personagens mais endurecidos. Em vários momentos fica difícil  acreditar que ele está apaixonado por Caroline (e ressalta ainda mais as ressalvas que ela possei sobre o romance que se instaura entre os dois). Quando o desfecho chega totalmente anticlímax o espectador logo identifica que Estranha Presença é um filme de terror que tem vergonha de ser terror. Preferia ser um drama psicológico, um comentário social ou qualquer outra coisa. No caso, ele resulta nesta última opção, assim mesmo, outra coisa indefinida e frustrante, principalmente se levarmos em conta o bom elenco perdido e a direção de um diretor que apresenta aqui seu pior trabalho. Se lembrarmos ainda que Lenny Abrahamson fez Frank/2014 e a minissérie Normal People/2020 fica ainda mais complicado entender o resultado alcançado aqui. Interferência de produtores? Talvez. No fim das contas, a Estanha Presença é a do Lenny mesmo. 

Estranha Presença (The Little Stranger - Reino Unido / Irlanda / França - 2018) de Lenny Abrahamson com Domhnall Gleesonn, Ruth Wilson, Charlotte Rampling, Will Poulter, Liv Hill e Peter Ormond. ☻☻

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