James, Nicole, Adam e Meryl: publicidade por uma causa.
Fiquei surpreso em saber que o ponto de partida de A Festa de Formatura é baseado em uma história real. Em 2010 uma estudante realmente teve que batalhar para conseguir fazer uma festa de formatura em sua escola em que pudesse participar e levar sua namorada. A estudante recebeu apoio de diversos artistas e levou o caso à justiça do estado do Mississipi que decidiu que ela tinha o direito de ir participar da festa com a namorada e vestindo as roupas que quisesse. Diante da decisão, a American Family Association acusou os apoiadores da adolescente de "normalizar o comportamento sexual aberrativo". É difícil de acreditar que em pleno século XXI fatos assim possam acontecer, não por acaso que a notícia ganhou destaque e acabou inspirando um musical na Broadway que alfineta o conservadorismo enquanto ironiza o engajamento marketeiro de alguns artistas. Agora é a vez da história virar filme pelas mãos de Ryan Murphy que lança sua obra pela Netflix de olho nas premiações. No filme Emma (Jo Ellen Pellman) conta com a ajuda de um grupo de artistas decadentes da Broadway para fazer sua festa de formatura acontecer. No entanto, estes artistas decadentes estão muito mais preocupados em ganharem os holofotes por uma causa do que realmente se importarem com Emma e sua namorada (Ariana deBose) - que vale lembrar é filha da mega conservadora Srª Green (Kerry Washington), a maior responsável pelo cancelamento do baile de formatura. Assim, a estrela Dee Dee Allen (Meryl Streep), seu parceiro de fracassos Barry (James Corden), a amiga Angie Dickinson (Nicole Kidman) e o ator-que-paga-as-contas-trabalhando-como-garçom Trent Oliver (Adam Rannells) partem para Indiana e dão uma chacoalhada no conservadorismo local. Embora sejam auto-centrados e egocêntricos demais eles possuem um bom coração e se dedicam a ajudar. Vale lembrar que A Festa de Formatura é um musical e capricha no visual espalhafatoso e alguns números de dança (a chegada de Dee Dee na escola e cena do shopping são as mais interessantes), mas nas mãos de Ryan Murphy parece um capítulo esticado da segunda temporada de Glee (a série que tornou Ryan no menino de ouro da TV e se tornou cultuada mundialmente na primeira temporada). Embora Meryl esteja divertida em cena (e com uma química incrível com Keegan Michael-Key, que interpreta o fã diretor da escola) e Corden se esforce (demais e pareça exagerado a maior parte do tempo), a maior parte dos números musicais soam cansativo pela similaridade entre as canções (e o trabalho de Adam Anders nos arranjos vocais, especialmente dos adolescentes, deixa tudo muito parecido para gerar alguma surpresa ou empolgação. Haja Pro Tools!). A musicalidade bate sempre na mesma tecla e as letras bem humoradas também soam cada vez mais parecidas numa duração inchada de mais de duas horas de duração. As intenções do filme são ótimas e pode entreter a plateia que tem saudade de Glee, mas nãofalta um tanto de consistência, especialmente quando no desfecho tudo se resolve com uma musiquinha e um número de dança. Ryan Murphy se mostra mais uma vez um otimista em sua tarefa de baluarte da causa LGBTQI+, mas poderia voltar à concisão de sua estreia no cinema por Correndo com Tesouras/2010 , que apesar do fracasso na bilheteria ainda é sua obra-prima em matéria de cinema e trabalho com as emoções complicadas de seus personagens.
A Festa de Formatura (The Prom / EUA -2020) de Ryan Murphy com Meryl Streep, James Corden, Jo Ellen Pellman, Nicole Kidman, Kerry Washington, Adam Rannells, Keegan Michael-Key, Ariana deBose e Tracey Ullman. ☻☻
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