sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

PL►Y: Matando Deus

 
Emilio Gavira: Deus?

Sei que muita gente se incomoda quando filmes brincam com figuras divinas, assim como muitas pessoas se incomodam quando pessoas criticam este tipo de filme, mas particularmente se um filme for bom ou for ruim, ele terá que pagar o preço das críticas de sua existência. Sempre que vejo Deus em uma obra eu lembro de Nietzsche quando ele afirma que "o homem, em seu orgulho, criou Deus à sua imagem e semelhança", afinal, pode se dizer que uma obra retrata uma impressão que aquele autor tem de seu criador (se é que ele acredita em algum). De certo modo é esta impressão que me instiga a ver este tipo de filme, geralmente ela fala muito pouco do Deus vinculado à religião ou à criação da humanidade, mas fala da percepção de alguém tem sobre Ele. Se você não curte isso, passe longe dos filmes que giram em torno desta temática, mas se você acha que vale a pena como exercício criativo o filme espanhol Matando Deus é um filme interessante pela provocação que instaura. A ideia de um filme de fim de ano está lá, com  a presença de um sem teto (Emilio Gavira) que se apresenta como Deus ao usar o banheiro na casa de uma família que se prepara para celebrar o ano novo. Na primeira parte somos apresentados à família que tem lá os seus problemas, Santi (David Pareja), o filho mais novo ainda se recupera do fim do seu namoro, o casal anfitrião Ana (Itziar Castro) e Carlos (Eduardo Antuna) ainda estão digerindo as suspeitas de um adultério por parte dela e o patriarca (Boriz Ruiz) está com a saúde cada vez pior. Eis que quando este visitante surpresa se apresenta a estes personagens, ele deixa claro quais são seus planos para o ano que se inicia: ele matará todas as pessoas do mundo e aquele quarteto comum terá que escolher quais são as duas pessoas que sobreviverão ao fim da humanidade. No início eles não levam muito à sério aquela proposta, mas o visitante logo dá um exemplo dos seus poderes divinos e eles começam a analisar quem seria digno de sobreviver sem a companhia dos demais. As reflexões dos personagens compõem o segundo ato do filme e compõe a melhor parte da proposta com as indagações que surgem, questões relacionadas ao lazer, à idade, à família, ao amor, ao dinheiro começam a tomar o centro da discussão. Além de instigar o público a pensar no que faria em uma situação daquelas, chama a atenção a presença de um deus ameaçador, irônico e cruel, bem diferente da impressão que a maioria das pessoas teria (e Ana sempre destaca isso nos rumos da história), diante de um personagem tão tirano fica fácil entender a drástica medida que resolvem tomar, no entanto, as consequências serão sérias e podem até soar surpreendentes, mas coerentes com o que vimos até o desfecho. Se por um lado Matando Deus pode soar como uma brincadeira desrespeitosa, por outro lado fica mais interessante ao representar como a figura de um Criador tirano se choca à ideia de um Deus que prega o amor ao próximo, a compaixão e o amor entre os mortais. Apesar do tom provocador bem humorado, Matando Deus tem um desfecho sombrio e coloca a humanidade face a face com a morte e não adianta acreditar se de fato aquele barbudo era Deus ou não para mudar a finitude. 

Matando Deus (Matar a Dios / Espanha - 2017) de  Caye Casas, Albert Pintó com Emilio Gavira, David Pareja, Itziar Castro, Francisc Orella, David Pareja e Boris Ruiz. ☻☻

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