quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

PL►Y: Tio Frank

 
Paul e Sophie: em busca de aceitação. 

Frank (Paul Bettany) é um professor universitário dos anos 1970 que cresceu no interior da Carolina do Sul, numa cidadezinha chamada Creekville. Nascido em uma família conservadora, sua sobrinha Beth (Sophia Lillis) sempre olhou para ele como alguém diferente, especial até, cuja grande diferença era realmente conversar com ela como se a enxergasse de verdade. Quanto Beth vai estudar na Universidade de Nova York e fica mais perto do tio, ela começa a perceber os motivos que o fizeram viver distante da família e até mentir em alguns momentos. Este é o segundo filme dirigido por Allan Ball, o celebrado roteirista oscarizado por Beleza Americana (1999) que aqui apresenta um trabalho mais equilibrado e sutil do que seu longa anterior, o controverso Tabu (2007). Muito da empatia que temos pelo protagonista emerge dos minutos iniciais quando somos apresentados a ele pelo olhar carinhoso de sua sobrinha para logo depois perceber as dificuldades que o personagem possui para lidar com a rejeição de seu pai e os sentimentos que foram gerados a partir daí. Talvez seja importante alertar que não consigo falar sobre o filme sem citar um SPOILER, já que Frank é gay e vive com outro homem há alguns anos sem que a família saiba, ou melhor, ele até finge o relacionamento com uma amiga quando recebe parentes para um jantar com esfirras e tabules. O jantar faz muito mais sentido quando conhecemos Wally (Peter MacDissi), um imigrante que veio da Arábia Saudita e precisou fugir do radicalismo de sua terra natal sobre sua sexualidade. Equanto Wally teve que fugir da possibilidade de ser enforcado, Frank precisou fugir do preconceito do pai e do fantasma de seu primeiro amor. Assim, se no início o filme parece caminhar para ser uma comédia, uma guinada no roteiro faz com que Frank, Beth e Wally tenham que voltar para casa onde Frank cresceu e a ideia de revelar-se para os familiares torna-se um verdadeiro tormento. Ball compartilha com Beth o olhar carinhoso sobre o tio, mesmo nos seus momentos mais tortuosos e complementa o ótimo trabalho do elenco. Sophia Lillis demonstra mais uma vez ser uma jovem atriz a ser levada a sério ao lado de um dos trabalhos mais inspirados de Paul Bettany, que fazia tempo não tinha um personagem tão interessante nas mãos, basta ver como ele explora as camadas do personagem para ver como ele poderia ter trabalhos muito mais interessantes em suas mãos nos últimos anos. Menos conhecido e igualmente importante é a presença de Peter MacDissi, que começa como uma alívio cômico na história e aos poucos ganha a torcida da plateia por seu companheirismo com Frank, mesmo diante de todos os problemas que passaram juntos (e ecos destes maus momentos aparecem perto do último ato). Confesso que esperava mais do desfecho otimista, mas Tio Frank revela um Allan Ball menos cínico e repleto de boas intenções numa história sobre aceitação seja dos outros ou de si mesmo. 

Tio Frank (Uncle Frank/EUA-2020) de Allan Ball com Paul Bettany, Sophie Lillis, Peter MacDissi, Stephen Root, Steve Zahn, Margo Martindale e Lois Smith. ☻☻ 

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