Clooney: arrependimentos no fim da Terra.
Em 2006 George Clooney passou a ser levado a sério em Hollywood. Além de ver Boa Noite e Boa Sorte, seu segundo filme como diretor ser indicado a seis Oscars (incluindo filme, direção e roteiro) ele ainda levou para casa o Oscar de ator coadjuvante por um filme que quase ninguém lembra (Syriana). A partir dali, a crítica passou a exigir muito mais de Clooney não apenas como ator, mas especialmente como diretor. Parte das críticas recebidas por O Céu da Meia-Noite tem relação com esta régua alta com que observamos os filmes assinados por ele, afinal, o filme tem ambições óbvias que a faz ser lançada no período de premiações pela Netflix, mas que não devem prejudicar a apreciação do que o filme tem a oferecer. Ainda que não seja brilhante ou inesquecível, o filme funciona como uma história de arrependimento e redenção, o que confere ao filme uma melancolia que deve causar estranhamento nos fãs de ficção científica, mas que Clooney consegue trabalhar bem em sua primeira experiência com este tipo de filme. O filme é ambientado em 2049 e conta a história de Augustine (Clooney), um cientista que num mundo pós-apocalíptico vê o planeta Terra ser aos poucos despovoado por conta de uma catástrofe. Ele trabalha em uma base no ártico e serve de guia para astronautas que estavam em expedições pelo universo. Doente e solitário, ele relembra de fatos do seu passado e se vê ao lado de uma menina silenciosa que também foi deixada para trás. Juntos eles vão enfrentar desafios para sobreviver naquele ambiente congelante enquanto um grupo de astronautas tenta regressar para um planeta condenado com a boa notícia de que uma lua de Júpiter tem condições de ser habitada. Baseado no livro de Lilly Brooks-Dalton o maior desafio do filme é ser fluente com as três linhas narrativas que cria para si em nome da fidelidade à obra literária. Aqui vemos não apenas a rotina de Augustine no meio do gelo, como também cenas do seu passado e momentos com os astronautas enfrentando momentos tensos no espaço. A costura destes três momentos nem sempre funciona como deveria, já que produzem quebras narrativas no que deveria ser o aumento gradativo da história - e no meio de tudo isso existe uma espécie de surpresa no final que os mais escolados descobrirão logo no início (se já não mataram a charada no trailer mesmo, assim como eu) o que pode diminuir o impacto do filme. Particularmente gostei muito de ver um George Clooney envelhecido em uma atuação intimista por aqui, o que não é pouca coisa. Entre os astronautas o maior destaque fica para Felicity Jones que descobriu estar grávida pouco antes das filmagens e que teve o bebê incorporado à trama como uma espécie de mensagem esperançosa diante do caos. No fim das contas, O Céu da Meia-Noite é isso mesmo, num ano tão perigoso quanto 2020 o filme teve realmente a sorte de ter suas filmagens concluídas antes do início da pandemia. Outro ponto positivo do longa são os efeitos especiais - que provam que Clooney aprendeu muito com seu trabalho curtinho em Gravidade (2013) de Alfonso Cuarón. Misturando alguns elementos que já assistimos antes, dificilmente o filme aparecerá em listas de favoritos do ano, mas está longe de ser desastroso ou irrelevante.
O Céu da Meia-Noite (The Midnight Sky / EUA - 2020) de George Clooney, com George Clooney, David Oyelowo, Caoilinn Springall, Demian Bichir, Tiffany Boone e Kyle Chandler. ☻☻☻
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