Anthony (Anthony Hopkins) é um senhor de idade que está sob os cuidados da filha Anne (Olivia Colman), mas ele anda tendo problemas com a atual cuidadora e de vez em quando esquece onde colocou seu estimado relógio. Também fica intrigado com as pessoas estranhas que andam aparecendo em sua casa e o alguns comportamentos estranhos ao seu redor (assim como a casa que parece estar sempre diferente). Na verdade a cabeça de Anthony está uma grande confusão e o grande mérito do filme dirigido pelo estreante Florian Zeller é fazer o público sentir na pele todas as sensações de seu protagonista. Contado a partir do ponto de vista de alguém cuja mente começa a ser traiçoeira, Meu Pai se torna um filme surpreendente ao se tornar uma experiência sensorial para a plateia. Neste aspecto o dramaturgo Zeller merece todos os elogios, não apenas por adaptar sua peça para o cinema com uma destreza impressionante, mas também por saber utilizar todos os elementos cinematográficos que dispõe para criar uma espécie de jogo com o público. Neste ponto vale tudo, da edição, ao uso inusitado do cenário, passando por atores que mudam de identidade durante a sessão e cenas que soam bastante dissonantes do que se espera. Não é por acaso que Anthony Hopkins está elogiadíssimo pelo seu trabalho, não apenas pelo olhar perdido de seu personagem diante de um cenário que deveria lhe parecer tão familiar mas também por aquelas cenas (especialmente a última) que são de partir o coração - e prova que um ótimo ator pode sempre surpreender (e conquista sua sexta indicação ao Oscar). Vale também destacar que a indicada ao prêmio de atriz coadjuvante, Olivia Colman prova que a maldição do Oscar passou bem longe dela. Além de encarnar a Rainha Elizabeth nas duas temporadas mais populares da série The Crown, ela retorna agora bem mais contida do que a estapafúrdia rainha de A Favorita (2018) e consegue transmitir com seus olhares e posturas toda insegurança e responsabilidade que a personagem vivencia perante o estado de saúde do pai. O filme também faz o favor de deixar várias pontas soltas, sem explicar o que está havendo, deixando o espectador desbravar o enredo por si só, assim, alcança um resultado tão comovente quanto assustador. Com sua narrativa envolvente, Meu Pai superou a péssima campanha da Sony Classics (que praticamente escondeu o filme e deixou que ele chamasse atenção por conta própria) e conquistou outras quatro indicações ao Oscar deste ano: filme, roteiro adaptado, edição e (surpreendeu ao aparecer na categoria) design de produção - me atrevo a dizer, que para o filme não sair de mãos abanando da cerimonia do dia 25 de abril, bem que poderia receber este último como compensação, o trabalho é realmente brilhante e merece toda nossa atenção durante toda a sessão.
Meu Pai (The Father / Reino Unido - França / 2020) de Florian Zeller com Anthony Hopkins, Olivia Colman, Olivia Williams, Rufus Sewell, Imogen Poots e Mark Gatiss. ☻☻☻☻☻
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