terça-feira, 8 de setembro de 2015

CICLO VERDE E AMARELO: Boa Sorte

Zappa e Secco: romance tarja preta. 

Ninguém pode ser filha de Arnaldo Jabour impunemente. Carolina Jabour estreou na direção ano passado com Boa Sorte, drama romântico - um tanto maluquete - estrelado por Déborah Secco, o que  lhe garantiu projeção e um certo estardalhaço por sua personagem ser soropositiva, ter experimentado drogas variadas e ainda se envolver com um garoto menor de idade. Deixando as polêmicas de lado, o longa funciona como um romance melancólico e tem algumas cenas que fazem bonito dentro da cinematografia nacional por sua originalidade e frescor. A história gira em torno de João (João Pedro Zappa), rapaz internado numa instituição psiquiátrica pelos pais (Felipe Camargo e Gisele Fróes) depois que cansaram de suas esquisitices. Não se sabe ao certo o que João tem, parece um tanto apático, meio deprimido e seus surtos de agressividade não ajudam muito. Na clínica ele conhece Judite (Débora Secco), uma garota mais velha que perdeu as estribeiras faz tempo. A impulsividade de Judite e a melancolia de João torna a atração entre eles quase irresistível e o filme desenha uma história de amor dentro de um cenário inusitado, regado a remédios variados e diálogos bem elaborados. Alguns disseram que a estreia de Carolina Jabour não prima pela naturalidade, mas com sua ambientação quase toda num único cenário, fica claro que a diretora deseja mesmo construir um mundo a parte - e onde mais João saberia a receita para ficar invisível, assim como os atos que o fazem tornar-se visível novamente (e isso explica muito sobre como ele foi parar na tal instituição). O filme caminha bem com as química entre o casal protagonista, Déborah está convincente como uma garota que paga um preço alto pelos excessos cometidos e Zappa acerta na construção de um adolescente que revela-se aos poucos para a plateia. Os dois funcionam tão bem que eu nem me importei dos coadjuvantes ficarem pelo meio do caminho, sem receber muita atenção no desenvolvimento da história, é como se Carolina dissesse que  o amor fizesse tudo o que está em torno do casal desaparecer - mas quando a realidade chama de volta a dor é inevitável.  Quando o clima pesa, a cineasta opta por uma bela sequência em animação inspirada pelos registros no diário de Judite, um momento de delicadeza tão sublime que o filme nem merecia as cenas um tanto bruscas que surgem depois, uma ruptura desnecessária com a leveza impressa anteriormente. Apesar do pai famoso, Carolina Jabour ficou famosa com seus trabalhos como jornalista e publicitária, além dos trabalhos na co-direção de programas de TV (como na série Comédia da Vida Privada), mas seu filme de estreia não parece especial para a Globo, seus planos são puramente cinematográficos. Pela forma como abraça as fantasias de seus personagens em busca de si mesmos (ainda que sobre o outro), invisíveis ou não à base de "Frontal com Fanta" (título do conto que inspira o filme), o filme dá até vontade de aguardar o próximo trabalho de Carolina como cineasta.  

Boa Sorte (Brasil/2014) de Carolina Jabour, com Déborah Secco, João Pedro Zappa, Cássia Kis Magro, Felipe Camargo, Enrique Diaz e Fernanda Montenegro. ☻☻☻

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