quarta-feira, 9 de setembro de 2015

CICLO VERDE E AMARELO: Casa Grande

Thales e Novaes: relação à beira da falência. 

O longa de estreia do diretor Fellipe Barbosa tornou-se um dos filmes brasileiros mais elogiados do ano e realmente merece todos os elogios. Casa Grande é um filme que revela-se aos poucos, começa como uma salada de clichês sobre a classe média brasileira e aos poucos revela-se tão dramático quanto cômico ao retratar a família do jovem Jean (Thales Cavalcanti), que aos dezessete anos termina o Ensino Médio numa escola particular da elite carioca. Logo de início, o rapaz demonstra grande aptidão em repetir as frases do seu pai, Hugo (Marcello Novaes), um investidor desempregado que tem opiniões formadas sobre tudo, ainda que estas sejam construídas à base de frases prontas e propagadas sem muito aprofundamento (fique atento como algumas de suas frases são revistas e ironizadas ao longo do filme, seja sua contradição com relação às cotas raciais ou a sugestão de um amigo do filho estudar numa conceituada universidade particular). Ainda que Hugo esteja enfrentando dificuldades financeiras existe um verdadeiro jogo de aparências que tenta manter um estilo de vida caro demais para o seu bolso. A jacuzzi vive desligada por consumir muita energia, a conta do telefone anda mais cara do que deveria e as dívidas começam a se acumular (e ao longo do filme novas contas vão chegando). Ainda assim, podemos perceber que Jean e sua irmã Nathalie (Alice Melo) cresceram dentro de uma bolha de segurança que começa a ser ameaçada, sendo assim, não deixa de ser engraçado cenas como a primeira vez que Jean anda de ônibus e escuta o conselho da mãe zelosa (a ótima Suzana Pires) de que é importante separar o dinheiro para o ladrão. Quando se acostuma com a proposta do diretor, percebemos que o roteiro é uma espécie de amálgama do olhar de um grupo de pessoas sobre um mundo do qual julgam não fazer parte - mas todos fazemos parte da mesma realidade, embora possamos estar em posições diferentes e Casa Grande lembra disso o tempo inteiro (seja na forma como a família classe média trata os empregados ou nos conflitos que Jean começa a ter conforme enxerga o mundo com os próprios olhos). É no crescimento de Jean que o filme torna-se mais rico! Conforme seu protagonista começa a descobrir que todo aquele conforto é mais artificial do que pensava, o filme cresce quando Jean busca o seu lugar no mundo e, com isso, os conflitos com o pai são inevitáveis.  Enquanto ele cresce, o roteiro reserva observações pontuais sobre as relações de classe em nosso país, para isso, deixa muitos diálogos e preconceitos no ar, investindo na constante busca de Jean por relações mais acolhedoras (ainda que nem ele saiba ser muito acolhedor). Não é por acaso que o título remete ao clássico "Casa Grande e Senzala", o filme parece à uma releitura contemporânea das relações sinalizadas por Gilberto Freyre na sua obra lançada em 1933. O mais interessante é que Fellipe Barbosa aborda uma complicada rede de temas com grande desenvoltura, sem soar hermético ou pretensioso, talvez por isso, muita gente verá no filme o processo de amadurecimento de um adolescente, para os mais atentos, ele será o retrato de uma classe iludida à beira da falência. 

Casa Grande (Brasil/2015) de Fellipe Barbosa com Thales Cavalcanti, Marcello Novaes, Suzana Pires, Bruna Amaya, Georgiana Góes e Clarissa Pinheiro. ☻☻☻ 

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