Ovo e seus amigos: ele nem imagina que é um menino.
Acho engraçado como as animações voltadas para as crianças andam flertando cada vez mais com tramas de terror e suspense, o que devo dizer que não é uma tarefa fácil. Parte disso se deve ao estúdio Laika, responsável pelos sombrios Coraline (2009) e Paranorman (2012), ambos indicados ao Oscar, ainda que com pouco sucesso nas bilheterias. No entanto, com o lançamento de Boxtrolls o estúdio obteve mais êxito, talvez por sua sua história ser mais divertida, repleta de boas intenções e protagonizada por monstrinhos simpáticos. Indicado ao Oscar de melhor animação, o filme conta a história de um menino criado por Trolls, ou melhor, Boxtrolls, já que eles se vestem com caixas (box em inglês) e recebem o nome do que está na embalagem (assim, o menino é chamado de Ovo pelos seus cuidadores). Os Boxtrolls vivem no subsolo, gostam de inventar coisas e são pacíficos, ainda que tenham a má fama de serem monstros cruéis (tudo por conta da acusação de terem sequestrado um bebê e assassinado o pai da criança). A partir daí, o horroroso Arquibaldo Surrupião diz ser capaz de eliminar todos os monstrinhos para receber um famigerado chapéu branco, que confere nobreza a quem o usa (nem que seja para apenas comer queijos junto com a elite da cidade - vale ressaltar que Surrupião é alérgico a queijo). Sendo assim, Ovo passa a ver seus amigos sendo caçados até que sobrem poucos para contar história. Disposto a mudar essa realidade, ele irá enfrentar Arquibaldo e mostrar quem é o verdadeiro vilão da história. A história simples é contada com segredos sendo revelados aos poucos, especialmente a descoberta de Ovo de que ele não é um boxtroll como imagina (a cena em que ele justifica as diferenças com seus amigos monstrinhos é de rolar de rir). Além do tom de aventura, o filme dá conta de uma história de disputa de classes que garante mais complexidade para a história. Além do roteiro bem cuidado, Boxtrolls mantem a marca do estúdio em realizar animações em stop-motion - um trabalhoso processo artesanal realizado com bonecos manipulados quadro a quadro durante as filmagens, o que só ressalta o valor artístico do longa. Desta vez, o trabalho dos envolvidos mostrou-se ainda mais ambicioso, não apenas pelo texto alegórico, mas pelos personagens repletos de detalhes a serem trabalhados diante das câmeras. O resultado é sofisticado e divertido, garantindo o interesse de adultos e crianças que poderão fazer leituras diferenciadas de uma mesma história criada a partir dos textos de Adam Snow em A Gente é Monstro! (vale a pena procurar as obras do autor).
Os Boxtrolls (EUA/) de Graham Annable e Anthony Stacchi, com vozes de Jared Harris, Ben Kinsley e Nick Frost. ☻☻☻☻
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