Sturgess: no meio do caminho.
Depois dos elogios com o intimista Nordeste (2005), o argentino Juan Solanas partiu para fazer filme em inglês com o ambicioso Mundos Opostos. O filme estrelado por Kirsten Dunst e Jim Sturgess foi aguardado com muita expectativa, mas quando chegou aos cinemas passou praticamente em branco. Um dos motivos para a decepção deve-se para a desigualdade entre os dois pólos do roteiro, que tinha tudo para ser uma ficção científica fascinante, cheia de camadas e comentários sociais, mas que revela-se apenas um romance entre classes de forma bastante trivial. Ainda assim, o filme vale ser visto por conta se seu apelo visual que realmente impressiona. A história se passa em uma realidade paralela, Adam (Sturgess) e Eden (Dunst) vivem em mundos gêmeos de gravidades opostas, ou seja, quando alguém de um mundo olha para cima, enxerga o outro. O efeito é semelhante ao que vimos na antológica cena da cidade dobrada sobre si mesma em A Origem/2010 só que estendida por cem minutos. Esse cenário surrealista serve para uma metáfora, onde quem vive no mundo de baixo, não pode nunca viver no mundo de cima (e a gravidade oposta já é um impeditivo para isso). Eis que a descoberta de um novo produto de beleza criado por Adam demonstra seu potencial perante os do mundo de cima, mas ele não quer apenas ser reconhecido pelo seu trabalho, ele ainda quer reencontrar seu amor de infância, Eden. Essa fantasia amorosa fará com que Adam desobedeça algumas regras e consiga encontrar meios para enganar as autoridades (e a gravidade, o que rende alguns dos momentos mais interessantes do filme), poderia ser ótimo, mas o filme segue, ironicamente, um contraste que incomoda. Por um lado está o visual arrebatador, valorizado pela fotografia reluzente, os ângulos inovadores, os enquadramentos criativos e os efeitos especiais de encher os olhos, do outro está um romance burocrático, sem sal, que enfrenta o obstáculo de autoridades que nunca deixam claro o problema em deixar os dois mundos se misturarem. Será que na inevitável interação espelhada dos dois mundos, Adam e Eden são os únicos que tentaram driblar as regras por qualquer motivo que fosse? Tive a sensação que a história do filme era outra e que inventaram o romance para atrair o público que acabou rejeitando esse lado da história. Ao chegar ao seu final óbvio e apressado, Mundos Opostos mostra que tinha o visual ideal e algumas ideias que poderiam fazer dele um cult instantâneo, mas soa como o desperdício de uma ideia genial. Tive a impressão que o roteiro de Solanas foi tão remexido que seus maiores trunfos acabaram perdendo força para um romance água com açúcar. Assim, de nada serve ter atores esforçados no elenco se o roteiro oferece tão pouco para o desenvolvimento dos personagens, que parecem esquemáticos demais para empolgarem. Resta ficar na lembrança as imagens impactantes junto a tudo que o filme poderia ser.
Mundos Opostos (Upside Down/Canadá-França/2012) de Juan Solanas com Jim Sturgess, Kirsten Dunst, Timothy Spall e Nicholas Rose. ☻☻☻
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