sexta-feira, 11 de setembro de 2015

CICLO VERDE E AMARELO: Entre Vales

Ângelo: do luxo ao lixo. 

O cineasta Phillippe Barcinski é responsável por um dos filmes mais interessantes que assisti nos últimos anos, trata-se de Não Por Acaso (2007), filme que mostra a essência urbana de São Paulo sob um prisma quase metafísico - sem ser chato ou pesado por conta disso. Entre Vales, seu filme seguinte demorou tempo demais para chegar às salas de cinema, tornou-se famoso no circuito de festivais, mas quando lançado, dividiu a opinião de público e crítica sobre a história calcada nas duas fases da vida de um homem. Vicente (Ângelo Antônio) é um economista bem empregado, que atua há anos na construção de aterros sanitários. Casado com uma dentista, com quem tem um filho,  a vida do personagem é bastante confortável. No entanto, o filme mescla essa vida comum com cenas onde Vicente vasculha um lixão. O que teria acontecido do conforto de sua vida domiciliar e profissional para ele mudar totalmente de vida? Isso é o que faz o espectador acompanhar o filme, mas quando chega ao fim, deixa a sensação de que faltou algo para ligar as duas partes. É verdade que o filme apresenta duas grandes perdas na vida de Vicente e que parecem determinantes na mudança que o personagem atravessa, mas ainda assim, elas são mostradas de forma tão breve em comparação aos vários minutos que se repetem com o protagonista no meio do lixo, que tive a impressão que todo o drama do personagem foi mal construído. Outro exemplo dessa economia da abordagem de aspectos fundamentais na vida de Vicente é o relacionamento com a esposa, que praticamente não é mostrado até o momento em que dão uma notícia devastadora para o menino que não entende muito bem o que está acontecendo (e eu me senti como ele), mas mal um assunto é desenvolvido, outro fato crucial acontece subitamente. Entendo que Barcinski não queria ser apelativo ou melodramático, preferindo mostrar Vicente revirando toneladas de lixo a maior parte do tempo, mas não sei se a coisa saiu como o pensado. O resultado é um filme frio e distante, que investe mais no apelo dramático do aterro do que na dissolução do protagonista, afinal, da forma como é mostrada (sendo quase acidental) tudo é apressado e sucinto demais para que Entre Vales se tornasse o belo filme que almeja ser. Da forma como a história é apresentada, tudo parece um tanto inverossímil demais. De belo, o filme tem somente a fotografia cuidadosa de Walter Carvalho (que torna aquele monte de entulho quase numa pintura), mas essa glamourização era mesmo a intenção do cineasta?

Entre Vales (Brasil/2012) de Phillippe Barcisnki com Ângelo Antonio, Fabiana Weneck, Inês Peixoto e Daniel Hendler. ☻☻

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