Roche, Satrapi e Ripa: brincando de fazer um filme.
Lembro quando Marjane Satrapi fez a versão para as telas de sua HQ Persépolis virei seu fã imediatamente. Após ver o filme, comprei a HQ e li outros trabalhos da iraniana radicada na França. Lembro que na época ela era assediada pela mídia e uma revista feminina editada no Brasil conseguiu uma entrevista. Marjane deve ter ficado tão decepcionada com as perguntas quanto eu (perguntavam de sua vida amorosa, se ela usava biquíni na praia... entre outras pérolas de sabedoria), no entanto, a moça mereceu ainda mais minha admiração pela forma como desviava das idiotices que eram direcionadas a ela. Notava-se que Marjane Satrapi não era uma mulherzinha dessas que aparecem preocupadas somente com a aparência e o sexo oposto, tão pouco posava de politizada intelectual para atrair a tribo mais cabeça. Marjane é Marjane, ponto. Vendo seu terceiro longa metragem essa frase ecoava na minha cabeça, já que ela juntou um grupo de amigos, pegou uma câmera na mão com um fiapo de roteiro e criou A Gangue dos Jotas, um filme tão despojado que pode provocar certa insatisfação. Jotas é o primeiro filme que Marjane dirige sozinha (os anteriores eram co-dirigidos por Vincent Paronnaud) e ela opta por fazer um road movie a partir das confusões geradas da troca de malas num aeroporto, onde uma mulher (Satrapi sempre vestida como se estivesse disfarçada) entra em contato com dois homens que levaram sua bagagem por engano. Assim ela conhece Nils (Mattias Ripa, esposo da diretora) e Didier (Stéphane Roche, que também é o montador do filme), dois atletas amadores de peteca badminton e que durante um almoço com a misteriosa mulher acabam se metendo em encrenca, afinal, ela é perseguida por uma espécie de máfia de sósias cujos nomes começam com a letra jota. Ela diz que por terem sido vistos com ela, provavelmente eles serão perseguidos também, já que ela é o alvo deles desde que mataram sua irmã de forma cruel. Assim, os três se unem, deixando o serviço sujo para os dois homens que começam a eliminar Juan, José, Joaquin, Jesus... (todos vividos pelo ator Ali Mafhakeri) em cenas que parecem improvisadas. O resultado é um tanto irregular, mas pode gerar risadas com o seu tom de humor negro e alguns detalhes que chamam a atenção no desenrolar da história (os tais mafiosos sempre parecem inofensivos e desarmados e a mulher sempre hesita dizer sua origem). A Gangue dos Jotas é uma brincadeira entre amigos e a cena final (uma festa onde a amiga Maria de Medeiros aparece) deixa essa a impressão ainda mais forte. Parece que depois dos holofotes de Persépolis (2007) e o flerte com a fantasia em Frango com Ameixas (2011), Marjane quis relaxar criando um filme mais despretensioso que melhora muito quando flerta com o absurdo, mas, ainda assim, é bem menos interessante que suas obras anteriores.
A Gangue dos Jotas (Le Bande des Jotas/França-Bélgica-2012) de Marjane Satrapi com Marjani Satrapi, Stéphane Roche, Mattias Ripa, Maria de Medeiros e Ali Mafhakeri. ☻☻
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