Horikoshi: o filme sério do mestre Miyazaki.
Hayao Miyazaki é um mestre da animação desde a década de 1970, mas muita gente buscou sua obra somente depois que A Viagem de Chihiro (2001) ganhou o prêmio máximo do Festival de Berlim e o Oscar de melhor animação (derrotando os pesos pesados A Era do Gelo da Fox e Lilo e Stictch da Disney). Em 2013, o último filme de sua carreira (já que ele anunciou sua aposentadoria logo depois), teve a beleza ofuscada por uma polêmica envolvendo seu personagem principal. Ao contar a história do engenheiro aeronáutico Hijiro Horikoshi, o filme esbarrou no sucesso que seus projetos fizeram durante a Segunda Guerra Mundial (sendo usados especialmente no bombadeio à Pearl Harbour nos EUA). Obviamente que a biografia de Hijiro não seria bem vista pelos críticos americanos, mas ainda assim o bom senso fez com que o filme fosse indicado ao Oscar de Melhor Animação. Para além da qualidade técnica, Miyazaki ousou construir um filme não como um desenho para crianças, mas um filme que poderia ter sido realizado com atores de carne e osso. Em alguns momentos o roteiro até tem suas doses de fantasia, mas o tom na maior parte da sessão é realista e épico. Prova disso é a impressionante parte onde o filme retrata um terremoto que destruiu Tóquio em 1923, com seus estragos e desabrigados vistos com uma dramaticidade de precisão absoluta, capaz de fazer o público ser absorvido para a trajetória de Horikoshi entre os tempos difíceis que se anunciavam. É nesse episódio que o filme ganha cores mais românticas, por fazer o personagem encontrar pela primeira vez o amor em sua vida. Apesar de inspirador, essa parte da vida íntima do personagem tem muito de ficção, mas não atrapalha o desenvolvimento da história que capricha nos traços, cores e sonoplastia. Assim como o sofrimento do personagem diante de um romance fadado a ter fim antes do que devia, o filme explora os conflitos do personagem com a ligação de seus projetos às limitações de seu tempo (motores menos potentes do que precisava, materiais pesados demais...) e o vínculo com a indústria bélica e a cultura de guerra. Ao final da sessão, Vidas ao Vento resulta numa ode à inventividade humana e como a sede por poder e destruição pode absorvê-la de maneira perigosa. Tratas-se de um belo filme, mas incompreendido por muita gente.
Vidas ao Vento (Kaze Tachinu/Japão-2013) com vozes de Hideaki Anno, Miori Takimoto e Mirai Shida. ☻☻☻☻
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