quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

CATÁLOGO: Syriana

Damon, Clooney, Amr e Jeffrey: caleidoscópio petrolífero

2005 foi o ano da virada para o astro George Clooney. Fixando um estilo que permanece até hoje: o do galã politizado e comprometido com causas (ou filmes) relevantes e que de vez em quando faz uma comédia para aliviar a tensão ao lado dos amigos. Além de ter se firmado como um cineasta engajado com o premiado Boa Noite e Boa Sorte, o ex-astro do seriado Plantão Médico levou para a casa o Oscar de coadjuvante por sua atuação em Syriana, o longa de estreia do roteirista Stephen Gaghan (premiado por Traffic/2000) que aborda vários lados da exploração do petróleo no Oriente Médio. Gaghan é um bocado ambicioso em sua estreia, contando histórias de vários personagens que se cruzam em torno do mesmo tema: a extração de petróleo (e a escolha do título Syriana vem daí,  já que é a denominação para o grupo de países que mais produz na indústria petrolífera, ou simplesmente, aqueles localizados na área correspondente à Síria). O resultado final que é repleto de boas intenções, mas até lá, Gaghan se perde em personagens soltos e algumas pontas que não conseguem ser amarradas. Sendo assim, Matt Damon é o que possui a história mais comovente ao viver um drama familiar ao lado da esposa (Amanda Peet) em meio aos interesses da indústria petrolífera,  com tantos conceitos geopolíticos deve ser o personagem com o qual o público mais se identifica (o que é mais do que compreensível). Porém, a trama que deve prender a atenção é do agente da CIA vivido por George Clooney que tenta desvendar o emaranhado de interesses na indústria ilegais da indústria. De fato, Clooney está bem no papel, engordou vinte quilos e deixou a barba crescer e quase morreu durante as filmagens (você lembra? Fique atento à cena de tortura em que a cadeira em que está amarrado cai e ele bate com a cabeça no chão. Após as filmagens, Clooney começou a passar mal, sentir dores de cabeça e descobriu que havia rompido uma espécie de membrana cerebral, permitindo que um líquido vazasse - o que poderia lhe causar danos irreversíveis. Mas ele se tratou e tudo se resolveu). Clooney constrói um tipo desiludido com a profissão numa missão ingrata - e que o faz sofrer represálias dos manda chuvas petrolíferos.  Pipoca na trama algumas sirenes de alerta como o discurso do personagem de Tim Blake Nelson ("corrupção, corrupção é a nossa proteção!") e a sensação de que ao acabar o petróleo daquela área (o que não deve demorar) os países estarão entregues à miséria completa.  A trama ainda reserva espaço para um adolescente que se torna terrorista, um advogado em dilema moral (Jeffrey Wright) e um herdeiro milionário da região (Amr Waked, que em minha modesta opinião é o melhor em cena). Gaghan não é Robert Altman ou Steve Soderberg para conseguir alinhavar todos os núcleos de forma envolvente - e muitas vezes tudo parece confuso - mas é louvável a sua intenção de nos inserir no jogo de interesses de uma indústria milionária e de proporções globalmente assustadoras (especialmente pelo final pessimista). Além de atuar, Clooney ainda bancou parte da produção - valeu a pena. 

Syriana (Syriana/EUA-2005) de Stephen Gaghan com Matt Damon, George Clooney, Jeffrey Wright, Christopher Plummer, Amr Waked e Chris Cooper. ☻☻

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