sábado, 23 de fevereiro de 2013

FILMED+: Argo

Affleck: diretor esnobado no Oscar, só no Oscar...

Às vezes eu demoro para escrever o comentário sobre um filme (só para você ter ideia, a minha lista de filmes vistos e esperando um comentário ultrapassa, atualmente, dez títulos). Alguns se perdem em algum canto da memória e quando revejo escrevo sobre ele. Outros quando vejo eu preciso de um tempo para digerir até que um texto seja produzido. Também existem aqueles que prefiro dar uma outra olhada para ter certeza que não estou sendo vítima de alguma campanha de marketing. Deve ser por isso que somente agora me sinto preparado para escrever sobre Argo, o terceiro longa de Ben Affleck na direção e um dos mais celebrados do ano. Se você perceber, ele entrou na minha lista de dez melhores filmes de 2012 e quase desbancou Drive ao título de meu favorito entre os lançamentos do ano passado em terras brasileiras. O fato é que nunca duvidei que Ben Affleck houvesse construído um ótimo filme. Desde que apareceu o primeiro lampejo sobre Argo na imprensa, o filme recebeu minha atenção com sua trama inacreditável. É visível como em cada filme Affleck tornava-se cada vez mais seguro ao conduzir a trama enquanto manteve firme sua astúcia para escalação de elenco. Affleck sabe como uma estrela sofre para ser levada a sério e, por isso mesmo, gosta de escalar bons atores que nem sempre tem um vasto fã clube. Mais que eficiente na condução das atuações, Ben sempre garantiu uma vaga para seu elenco entre os favoritos da Academia. Foi assim em sua estreia com Medo da Verdade/2007 (onde a mãe maluquete de Amy Ryan lhe valeu vários prêmios e uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante), o feito se repetiu com Atração Perigosa/2010 (que confirmou Jeremy Renner como um ator respeitável - indicado ao prêmio de ator coadjuvante) e agora Alan Arkin como uma raposa de Hollywood sendo indicado ao prêmio de ator coadjuvante. Nem vou comentar que o filme levou para a casa o Prêmio do Sindicato dos Atores de Melhor Elenco, prêmio que acabou ofuscado diante do Globo de Ouro de Melhor Filme e diretor (dobradinha que se repetiu no BAFTA e no prêmio da Crítica Americana). Ben Affleck pode se gabar de criar um dos filmes mais tensos dos últimos anos, com uma narrativa espetacular que mescla drama e humor com uma eficiência raramente vista - auxiliado pela edição absurda de William Goldenberg e um senso estético apurado que recria o final dos anos 1970 e início dos 1980 com precisão. Argo conta a história de uma missão quase suicida de CIA em 1980 para libertar seis funcionários da embaixada americana no Irã depois que esta foi invadida por uma multidão enfurecida. A multidão queria que os EUA devolvesse o exilado xá Reza Pahlevi, que era acusado de cometer crimes contra a população e foi deposto por Aiatolá Khomeine e sua visão conservadora. O filme, obviamente arranha questões políticas, mas deixa essa parte em segundo plano para se dedicar à missão de resgate orquestrada por Tony Mendez (Affleck, num bom momento diante das câmeras). Os seis funcionários fugiram da embaixada do Tio Sam pouco  antes que os manifestantes a invadissem e tomassem cinquenta pessoas como reféns. Os seis funcionários se esconderam na embaixada canadense e era uma questão de tempo para que fossem descobertos. Correndo contra o tempo, Mendez tem a ideia mirabolante de criar um filme de ficção científica a ser filmado no Irã e com locações a serem estudadas. Disfarçado de produtor canadense, Mendez transformaria os "hóspedes" da embaixada canadense em sua equipe de produção e, não fosse esse o plano, os seis teriam que pedalar para fora do país... literalmente! Curioso é como Affleck consegue misturar críticas ao sistema (os altos e baixos da missão devido ao alto escalão do governo americano) e à própria indústria do cinema (com auxílio luxuoso de Alan Arkin e John Goodman que são os consultores para que o filme de ficção científica seja capaz de convencer até mais xiita dos habitantes iranianos). Argo é o nome do filme que serve de disfarce para o resgate, e de fato, seu roteiro existiu nos bastidores de Hollywood (sendo visto como uma cópia descarada de Star Wars), mas nunca saiu do papel. Apesar do humor (que quando parece que vai cair no exagero serve de contraste para alguma cena assustadora), Affleck consegue gerar uma tensão absurda durante o filme e conta com um trabalho de montagem magistral que mescla cenas que, aparentemente, não teriam relação (como a leitura do roteiro estapafúrdio e o telejornal). Sem nunca perder de vista o drama de seus personagens, o filme remete diretamente aos filmes políticos da década de 1970, tanto em sua estética retrô como em seu estilo de narrativa. Indicado a sete Oscars, o filme foi lançado em setembro e manteve sua força para a cerimonia do Oscar que acontece no próximo domingo. Se ganhar será o meu ganhador favorito desde Beleza Americana (1999). Só para terminar, eu queria dizer que sempre achei engraçado as caras que Affleck fazia quando descobria que ganhava um prêmio de Melhor Diretor por Argo, acho que no fundo ele sabe que o que custou sua indicação ao Oscar de diretor foi aquela piadinha do roteiro que compara um diretor a um macaco. Que falta de senso de humor, camaradas...

Argo (EUA-2012) de Ben Affleck com Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston, Tate Donovan, Clea DuVall, Kyle Chandler, Chris Messina e Scoot McNairy. ☻☻☻☻☻

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