Michael e Glenn: Como cozinhar um coelho?
Os críticos costumam torcer o nariz para Adryan Lyne e existe um bocado de preconceito nisso, já que o diretor veio do ramo publicitário onde era especialista em criar campanhas de lingerie. Eu até entendo que o cara pode não ser um cineasta brilhante, mas ele consegue fazer filmes interessantes onde as temáticas giram invariavelmente em torno do sexo - e as mulheres costumam se dar muito bem (sem trocadilho) nos filmes do diretor. Jennifer Beals parecia ser uma estrela em Flashdance (1983), Kim Basinger virou objeto de desejo yuppie ao aparecer em 9 1/2 Semanas de Amor (1986), Demi Moore estava no auge quando ficou em dúvida (igual a muita gente) se aceitava um milhão de dólares para ir para cama com Robert Redford em Proposta Indecente (1993), Dominique Swan teve seu maior destaque como a Lolita (1997) do diretor e Diane Lane foi indicada ao Oscar por Infidelidade (2002). Antes de Diane, Glenn Close havia concorrido ao Oscar por um filme do diretor na assustadora atuação como a amante psicótica Alex - que transforma a vida do pai de família Dan (Michael Douglas) num inferno. Acusado de moralista na época, o filme foi um sucesso graças à atuação despudorada de Glenn Close, que demonstra tanta intensidade que deixa de ser coadjuvante para ser o maior atrativo do filme (é impressão minha ou algumas cenas parecem revisitadas em Instinto Selvagem/1992?). Dan é um advogado que parece feliz ao lado da bela esposa (Anne Archer, indicada ao Oscar de coadjuvante) e da filha de seis anos, mas não resiste à uma colega de trabalho no final de semana em que a esposa e a filha estão fora da cidade. O que para Dan era pura diversão (e aquela cena da pia está na memória de muito cinéfilo até hoje), para Alex se torna uma obsessão e quando a loura se sente desprezada, ela se torna ainda melhor. Vingativa e diabólica, Close está arrasadora no filme. Curioso como mesmo não sendo considerada bonita, ela consegue ser estranhamente atraente durante na fase mais sedutora da personagem (e que cabelo é aquele?!) para aos poucos se tornar numa das vilãs mais marcantes do cinema. Sei que alguns fãs vão dizer que ela não chega a ser uma vilã, mas uma personagem que persegue uma família, ao ponto de cozinhar o coelhinho de estimação da família e ter a cena de montanha russa mais assustadora do universo ao lado de uma criança só pode ser uma vilã (nem vou falar das caras e bocas de bruxa caprichadas pela atriz).Pouca gente deve saber, mas este clássico dos anos 1980 é baseado num média metragem britânico (Diversion/1980), devidamente escrito pelo mesmo roteirista James Dearden. O curioso mesmo é que analisado isoladamente, o roteiro nem é tão bom assim, deixando a trama dispersa em vários momentos (que parecem servir apenas para nos preparar para o próximo susto em 123 minutos de filme), mas Lyne com o elenco dedicado consegue fazê-lo parecer até melhor - especialmente quando faz Dan e Alex trocar de papéis durante à trama (ora ele é vulnerável ora é ela, ora ela é agressiva ora é ele até a violência gratuita do final). Apesar de ter conquistado indicações ao Oscar de filme, direção, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e montagem, a categoria mais merecida era mesmo de atriz. Close estava no auge ao final da década de 1980 e merecia o Oscar daquele ano (perdeu para Cher em Feitiço da Lua), mas a desfeita da Academia pareceu ainda maior quando ela perdeu no ano seguinte pela Marquesa de Meteuil de As Ligações Perigosas que reforçou sua imagem de uma das maiores megeras do cinema.
Atração Fatal (Fatal Attraction/EUA-1997) de Adrian Lyne com Glenn Close, Michael Douglas e Anne Archer. ☻☻☻
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