Eu não escrevi introduções para as outras categorias, mas você já percebeu que os atores dos filmes indicados ao Oscar acabaram se repetindo? Viola Davis (Tão Forte Tão Perto / Histórias Cruzadas), Tom Riddleston (Cavalo de Guerra / Meia Noite em Paris), Brad Pitt (A Árvore da Vida / O Homem que Mudou o Jogo) e Jessica Chastain (A Árvore da Vida / Histórias Cruzadas) aparecem em dois filmes da lista dos concorrentes. O mesmo poderia ter acontecido com George Clooney e Phillip Seymour Hoffman... mas deixa isso pra lá, vamos aos indicados ao maior prêmio da noite de amanhã:
Depois de levar a Palma de Ouro em Cannes deste ano, o novo filme de Terrence Mallick conseguiu ficar na lista dos melhores do ano para a Academia. O filme que beira o experimental - com a narrativa baseada nas memórias de uma família da década de 1950 - capricha na fotografia, na trilha sonora e nas atuações do seu elenco encabeçado por Brad Pitt e Jessica Chastain (ele no papel do pai rigoroso e ela como a mãe carinhosa - o embate entre essas dois caminhos é vivido internamente pelo filho mais velho - interpretado na idade adulta por Sean Penn). Ambientar uma história dessas em analogias entre a gênese e o apocalipse demorou mais cinco anos na vida de Mallick e conquistou as indicações de Filme, direção (Terrence Mallick) e fotografia.
A Invenção de Hugo Cabret (Hugo)
O campeão das indicações deste ano (concorre em onze: filme, direção/Martin Scorsese, roteiro adaptado, figurino, fotografia, montagem, direção de arte, efeitos visuais, trilha sonora, mixagem de som e edição de som) é a primeira aventura de Scorsese pelo universo infantil. Adaptado do livro de Brian Selznick o filme conta a história de um órfão que encontra um dos pioneiros do cinema: Georges Méliés. O fato de utilizar a tecnologia 3D para realizar uma ode à história do cinema pode contar pontos entre os votantes da Academia neste ano em que a nostalgia tomou conta dos concorrentes. O problema do filme é o preconceito que a Academia tem com os longas que investem na fantasia.
Steven Spielberg realizou um filme com toda a pompa para o Oscar. Basta ver o trailer para vermos como o filme tem aquele jeitão dos longas que a Academia adora premiar. O romance de Michael Morpurgo virou peça de sucesso e chegou aos cinemas contando a história do cavalo Joey durante a primeira guerra mundial e a busca de seu dono para reencontrá-lo. Embora tenha atuações marcantes de Tom Hiddleston e Emily Watson, a ausência de Spielberg entre os indicados ao prêmio de direção já aponta que o longa tem poucas chances. Mesmo com muita gente o considerando antiquado conseguiu outras cinco indicações em categorias técnicas: fotografia, direção de arte, trilha sonora, mixagem de som e edição de som.
Um dos poucos sucessos de bilheteria entre os indicados, The Help foi lançado em meados de 2011 e provou ter fôlego para chegar às premiações. Apesar de Tate Taylor não ter conseguido sua indicação ao prêmio de direção o filme conta com atuações inspiradas de um elenco feminino exemplar (que ganhou o prêmio do sindicato deste ano)! Ambientado no sul dos EUA na década de 1960, o filme conta a história de empregadas negras que resolvem participar das entrevistas para um livro onde a relação com as patroas é exposta. Tendo como fundo a luta pelos direitos civis e o racismo o filme conquistou o público e a Academia que lhe rendeu 4 indicações (filme, atriz coadjuvante/Jessica Chastain sendo o favorito nas categorias atriz/Viola Davis, atriz coadjuvante/Octavia Spencer)
Stephen Daldry conseguiu colocar mais um filme entre os finalistas do Oscar, embora muitos o considerem o pior de sua obra. Baseado no livro de Johnatan Safron Foer (o mesmo de Uma Vida Iluminada/2005) a trama conta a busca de um menino com síndrome de Asperge que teve o pai morto nos atentados de onze de setembro. O pai deixou uma chave misteriosa para o menino que irá encontrar vários personagens interessantes pelo caminho e que o ajudarão a digerir o seu trauma. Apesar de ser menos profundo do que deveria o filme conseguiu duas indicações ao careca dourado: filme e ator coadjuvante/Max Von Sydow. Mesmo tendo no elenco Tom Hanks e Sandra Bullock o público não se empolgou.
Sucesso desde que abriu o Festival de Cannes de 2011, Meia Noite em Paris foi o longa que fez as pazes de Woody Allen com o grande público e com a Academia. O filme conta a história de um escritor (Owen Wilson) em crise que em uma viagem à Paris consegue voltar no tempo sempre que o relógio anuncia a meia-noite. Basta isso acontecer para que seja transportado para a Paris dos anos 1920 onde encontra pessoas famosas como F. Scott Fitzgerald (Tom Riddleston) e Salvador Dalí (Adrien Brody). Indicado aos prêmios de filme, direção, direção de arte, mas é o favorito somente na categoria de roteiro original.
O Artista (The Artist)
Três filmes que deram o que falar em Cannes chegaram aos finalistas do Oscar, mas O Artista foi o que mais me surpreendeu por se tratar de uma co-produção francesa e americana, em preto e branco e que reproduz um filme mudo. Contando a história de um astro (Jean Dujardin) que está em crise com a chegada do cinema falado e sua relação com uma atriz em ascensão (Berenice Bejo) o filme caiu na graça da Academia que corre sério risco de o considerar o melhor do ano passado. Embora o sucesso do filme seja modesto perante o público, a trama investe no tom de comédia romântica e pode premiar até seu diretor e ator. O filme concorre em 10 categorias: filme, direção/Michel Hazanavicius, ator/Jean Dujardin, atriz coadjuvante/Berenice Bejo, roteiro original, figurino, fotografia, montagem, direção de arte e trilha sonora).
O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball)
O filme de Bennet Miller (Capote/2005) mostra a história real de Billy Beane (Brad Pitt) um homem que reinventa a forma de escalar um time de baseball com a ajuda de um nerd (Jonah Hill) que não manja nada do esporte, mas entende tudo de computadores. Com base na experiência, a dupla consegue escalar um time eficiente, mesmo sem ter muito dinheiro. O filme tem aquele jeito de filme esportivo que o público americano adora e concorre nas categorias de filme, ator coadjuvante/Jonah Hill, roteiro adaptado e montagem, mas tem chances somente na categoria ator (a qual Pitt irá enfrentar mais uma vez Jean Dujardin) e o amigo George Clooney.
O novo longa de Alexander Payne foi o favorito ao Oscar até pouco depois do Globo de Ouro, onde saiu premiado na categoria de Filme Dramático. O problema foi que O Artista ganhou mais fôlego ao receber o prêmio de melhor Comédia/Musical do ano e com a premiação de Jean Dujardin no prêmio do sindicato. Os Descendentes equilibra drama e comédia ao contar a história de um pai (George Clooney) que precisa aprender a lidar com as filhas na ausência da esposa que está em coma no hospital. Mais uma vez o diretor explora personagens que precisam amadurecer na marra! Embora não seja mais o favorito o filme ainda tem chances - e concorre ainda nas categorias direção/Alexander Payne, ator/George Clooney, roteiro adaptado e montagem.
O ESQUECIDO: Tudo Pelo Poder (The Ides of March)
Se a Academia continuasse elegendo dez candidatos por ano, provavelmente o posto teria ficado com o quarto filme do cineasta George Clooney. A trama do rapaz idealista que descobre as maracutaias do político para o qual trabalha conseguiu somente uma indicação ao prêmio de roteiro adaptado. De nada adiantou o sucesso perante público e crítica num filme sobre a forma como a política intoxica. Existe uma explicação para isso, ou melhor duas! Uma é o período eleitoreiro que os EUA atravessa (e a Academia odeia polêmicas assim, lembra em 2005 o que houve com Fahrenheit 11/9) e a outra foi a chacota que o elenco renomado do filme fez sobre concorrer ao Oscar numa das coletivas do Festival de Toronto. Mas com as chances que tem de levar o Oscar de ator para casa, George Clooney não deve estar magoado.
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