Winona e Oldman: amor imortal através dos séculos.
Eu era apenas um adolescente quando assisti pela primeira vez a versão de Drácula de Bram Stoker dirigida por Francis Ford Coppola. Nunca fui um grande fã de filmes de terror e, confesso, que assisti o filme apenas por conta de Winona Rider - atriz pela qual nutria uma verdadeira paixão platônica. Lembro que após assistir ao filme fiquei com a sensação estranha de que era um filme de terror diferente, cheio de pompa capaz de encher os olhos de qualquer fã de cinema, mas ao mesmo tempo, essa mesma característica era capaz de desagradar a maioria do público que esperava apenas um filme de terror. Quem conhece o trabalho do diretor (o que não era o meu caso na época) sabia que Coppola faria da história do Conde Drácula uma tragédia de forte apelo operístico - e é realmente isso que o cineasta entrega. Drácula foi feito para contentar seu estúdio depois que seus longas anteriores não fizeram o sucesso esperado e o esmero de Coppola foi grande para fazer arte com "A" maiúsculo ao beber na clássica história de Stoker. Mesmo com tanta exuberância visual, o maior acerto do diretor foi escalar o inglês Gary Oldman para encarnar o seu conde de caninos avantajados. Drácula é apresentado como um Conde que durante a Idade Média participou das Cruzadas em nome da Igreja, após lutar contra os turcos (que foram derrotados), seus inimigos enviaram uma mensagem de que o conde havia morrido em combate. A esposa dele, Elisabeta (Winona Rider) não suporta a dor e se suicida num rio. Ao retornar, o Conde recebe a dolorosa notícia e, ao sentir-se traído, renega a Deus e lança a si mesmo a maldição de viver através dos tempos, esperando o retorno de sua amada. Só esta parte já merecia que o filme fosse assistido pela intensidade que Oldman oferece ao seu personagem. Quatro séculos depois, uma mulher extremamente parecida com Elisabeta, Mina (Rider), está noiva de um jovem rapaz de negócios (Keanu Reeves) que está prestes a fechar um negócio com o excêntrico Conde Dracula nos cafundós da Transilvânia. Não vai demorar muito para que o Conde descubra que Mina é a reencarnação de Elisabeta e uma série de acontecimentos estranhos comecem a acontecer. Coppola parece dividir seu filme em três atos bem distintos - o que pode incomodar no ritmo sempre fatiado impresso na edição. Coppola constrói uma ambientação banhada em vermelho e sombras que explode em sexualidade em seu segundo ato, instensificando a relação desta temática com o surto de alguns personagens (especialmente da melhor amiga de Mina, que tem uma das cenas mais grotescas do filme com um... Lobisomen!). É neste flerte entre sensualidade e loucura que ocorre o encontro entre o Conde e Mina, pena que em sua reta final (o terceiro ato) com a chegada de Van Helsing (Anthony Hopkins) o filme perca o ritmo e se torne cada vez mais óbvio e desconectado com a trama dos atos anteriores. O romance, que parecia motivar a trama fica em terceiro plano e gera descontentamento. No fim das contas a direção de arte, figurinos e maquiagem do filme combinam com perfeição com as melhores intenções de Coppola, contruindo uma ópera trágica de horror amparada por uma atuação antológica de Gary Oldman - que está estupendo como o protagonista e que compensa qualquer excesso do longa (mas não foi o suficiente para lhe indicar ao Oscar daquele ano), o ator compensa até a inexperiência do roteirista James V. Hart - que sofrendo do que chamo de "síndrome do ponto final", não soube colocar o fim quando deveria, deixando o longa longo e aborrecido em sua última parte. Apesar do sucesso comercial (custou cerca de 40 milhões de dólares e rendeu mais de 200 milhões), o filme concorreu somente a Oscars técnicos (ganhou o de maquiagem, direção de arte e edição de som) e merece ser visto para estampar a má impressão que saga Crepúsculo deixou sobre a nação vampira.
Drácula de Bram Stoler (Dracula/EUA-1992) de Francis Ford Coppola com Gary Oldman, Winona Rider, Keanu Reeves, Anthony Hopkins, Tom Waits, Cary Elwes, Sadie Frost e Monica Bellucci. ☻☻☻
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