Carrel: aprendendo a ser um macho alfa.
Amor a Toda Prova começa com uma espécie de bomba arremessada. Vemos um casal aparentemente feliz, Cal e Emily Weaver num restaurante refinado e em dúvida com o menu, Emily diz que não sabe muito bem o que quer, até decidir-se: "Eu quero o divórcio". Deste ponto em diante, o mundo de Cal parece se desintegrar na expressão de Steve Carrell - e tudo piora quando descobre que a esposa o traiu com um colega de trabalho. Emily até suspeita que está atravessando uma crise de meia idade (ela chegou até a assistir um dos filmes da saga Crepúsculo!!!), mas julga que isso seja um privilégio dos homens. Diante da postura da esposa, Cal que sempre possuiu uma postura correta, não sabe mais como agir, preferindo choramingar em bares até que chama a atenção de um bon vivant, Jacob Palmer (Ryan Gosling) que irá ensiná-lo como superar o divórcio - isso inclui aulas de como se vestir, conversar e ser o mais sedutor possível (o que beira o impossível). Cal não supera a ausência de Emily, assim como Jacob não para de pensar numa garota que resistiu aos seus encantos. Ela se chama Hannah (Emma Stone), está prestes a se formar em Direito e vive um romance insosso com um engravatado. Ah, eu já ia me esquecendo de outro casal da trama, Robbie (Jonah Bobo), filho de Cal e Emily, que está apaixonado pela babá (Robbie Weaver) - que nutre uma paixão platônica por Cal. A dupla de diretores Glenn Ficarra e John Requa são mais que chegados em comédias ácidas, mas depois da última empreitada (o problemático O Golpista do Ano/2010 com Jim Carrey) eles resolveram pegar leve nesta ciranda amorosa, mas demonstram pleno domínio de sua dezena de personagens em meio a encontros e desencontros românticos. O mais bacana é que o resultado consegue ser bastante original devido ao humor bem articulado e nada bobo das situações que aparecem na mistura azeitada desses tipos tão comuns nas comédias românticas. Ficarra e Requa apontam para várias ironias das relações amorosas atuais e brincam com várias questões de gênero. Com o divórcio é Cal que não consegue esquecer a esposa (sua primeira namorada e única mulher com quem fez sexo até a separação), ao mesmo tempo é ele que é abandonado pelo casal de amigos (que acham mais correto ficar do lado de Emily, ou seja, uma inversão completa do antigo preconceito contra as mulheres divorciadas). Além disso é interessante como na primeira noite de amor com Hannah, é Jacob que não para de tagarelar sobre sua vida. Misturando todos num caldeirão bem humorado (que ainda inclui uma professora ex-alcoolatra, um tipo muito bem desenvolvido por Marisa Tomei) Amor a Toda Prova mostra-se um filme esperto o suficiente para não perder a graça nem quando Cal passa a reprovar o comportamento de Jacob (que precisa aprender a ser cada vez mais Cal) por motivos... familiares. Com um elenco excepcional, o filme merecia mais atenção nas premiações. Julianne Moore está ótima (como sempre) na crise de meia idade de sua personagem, Carell mostra mais uma vez que consegue conjugar drama e comédia na mesma cena e Ryan Gosling surpreende fazendo humor (que aceitou fazer o filme porque o psicólogo sugeriu como parte de um tratamento contra a carga dramática de seus filmes anteriores; acabou indicado ao Globo de Ouro de Ator de Comédia/Musical). O melhor de tudo é que após o final embalado pelo som da banda The Midle East o sorriso de satisfação ainda fica em nosso rosto por muito tempo.
Amor a Toda Prova (Crazy. Stupid. Love/EUA-2011) de Glenn Ficarra e John Requa com Steve Carrel, Julianne Moore, Ryan Gosling, Emma Stone, Marisa Tomei e Kevin Bacon. ☻☻☻☻
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