sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

DVD: Guerreiro


Hardy e Edgerton: ressentimentos familiares resolvidos no tatame.

Um dos maiores segredos do universo é o critério para o lançamento de um filme direto em DVD aqui no Brasil. Enquanto os estúdios colocam um monte de porcarias em cartaz todos os meses, filmes interessantes chegam às locadoras no mais completo anonimato. Alguns deles são até badalados em premiações como 50% e o ganhador do Oscar de 2010, Guerra ao Terror. Guerreiro não está indicado ao prêmio de melhor filme no Oscar desse ano, mas deixou cravada a indicação de Nick Nolte na categoria de ator coadjuvante (o filme que lhe rendeu uma indicação anterior ao prêmio, Temporada de Caça/1999 também chegou somente em  locadoras). O filme assinado por Gavin O'Connor (que até faz uma participação como ator no filme, fique atento a um comentarista careca e de óculos) explora os bastidores das lutas de MMA que se tornou uma febre nos EUA o misturando com doses cavalares de drama familiar. Joel Edgerton (o bom ator de Reino Animal/2010 que segundo uma amiga) é o professor  de física Brendan, que por problemas financeiros (acarretados pela cirurgia da filha pequena) retorna às suas origens de levar pancada no MMA. A esposa (Jennifer Morrison) é contra, mas diante da situação não lhe sobra muita escolha. Paralelo a isso conhecemos o enfezado Tommy Riordan (Tom Hardy), que reencontra o pai (Nolte) depois de tempos alimentando ressentimentos. Tommy convida o pai para ser seu treinador para se preparar para uma competição de MMA, o pai é  um ex-alcoolatra, ainda em frangalhos, que pretende colocar a vida nos eixos. A relação do pai com Tommy não é boa e é através dele que sabemos que Tommy é irmão de Brendan e, ao que tudo indica, o destino (ou roteiro) reserva um encontro para os dois. Se o relacionamento de Tommy com o pai não é dos melhores, a coisa não é muito diferente quando se trata dos encontros de Brendan com o pai. Apesar do roteiro não ser muito original ao abordar a dura vida pessoal de lutadores - e todas as analogias que podemos fazer com relação da vida nos ringues com suas vidas pessoais - a direção de O'Connor tem muitos méritos. A primeira delas é utilizar um tom cru para causar equilíbrio num longa que poderia cair no mais barato melodrama ou clima motivacional. Mesmo com uma família cheia de feridas e ressentimentos no centro da narrativa, O'Connor consegue segurar a narrativa com punhos de ferro, explorando a relação entre os três personagens antes que a pancadaria do torneio comece. Já comentei antes aqui no blog que acho os filmes dos lutadores muito semelhantes entre si, mas não lembro de ter vistos cenas de luta tão bem dirigidas e com tanto impacto visual - fiquei até chocado com a desenvoltura de Tom Hardy encarnar uma verdadeira máquina de socar o oponente e a de Edgerton suportar pancadas. Apesar do roteiro investir em alguns segredos da trajetória de Tommy nas forças armadas, o interesse pelo filme é alimentado mesmo pela intensidade de seus atores e das cenas no ringue. Edgerton consegue construir um mocinho fácil de simpatizar sem esforçço, Hardy consegue captar as ambiguidades do personagem (mesmo que não lhe atribua carisma), mas acaba sendo o pai de Nick Nolte que rouba a cena. Nolte alcança momento impressionantes como o pai que tenta reconquistar a amizade dos filhos após uma vida inteira metendo os pés pelas mãos - e a cena em que   solta seus demônios num quarto de hotel já merecia sua indicação. Guerreiro é um filme que merece ser visto pela forma corajosa com que tenta equilibrar drama e pancadaria.

Guerreiro (Warrior/EUA-2011) de Gavin O'Connor com Joel Edgerton, Tom Hardy, Nick Nolte, Jennifer Morrison e Frank Grillo. 

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