Contra o Tempo: O Dia da Marmota Hardcore!
Duncan Jones já pode celebrar por não ser conhecido como o filho de David Bowie. Depois da promissora estreia como cineasta no ótimo Lunar (2009), Duncan se aventura mais uma vez pelo universo da ficção científica com este Contra o Tempo. Apesar de ser um filme de estúdio, com um casal de atores badalados com indicações ao Oscar no currículo (Jake Gyllenhaal e Vera Farmiga), o interesse do diretor parece ser o mesmo: o que sobra de humanidade perante as experiências científicas. Misture no roteiro dilemas éticos da ciência, uma crise de identidade no meio do caminho e a possibilidade de mudar a sua história e verá que existe muito em comum entre os dois filmes do herdeiro de Ziggy Stardust - mesmo que a trama de ambos seja totalmente diferente. Contra o Tempo deixa claro que começa pelo meio do caminho, um homem desperta em um trem com a cara de que não faz a mínima ideia do que está acontecendo (e os traços de Jake Gyllenhaal parecem ser feitos para isso), conversa com uma desconhecida (a eficiente Michelle Monaghan) que insiste em chamá-lo por outro nome, enquanto isso um sujeito encrenca com outro, cai um pouco de café em seu sapato, um rapaz corre atrás de outro que esqueceu a carteira no vagão e tudo explode pouco depois. Esta rotina de oito minutos irá se repetir durante todo o filme enquanto, assim como o protagonista, tentamos entender o que está acontecendo. Descobrimos que ele se chama Colter Stevens, servia no meio da Guerra no Oriente Médio e agora faz parte de uma experiência onde o tempo faz toda a diferença. No experimento construído por Doutor Rutledge (Jeffrey Wright) ele é capaz de se conectar com um passageiro de um trem que explodiu naquela manhã e - se tudo der certo - descobrir quem é o terrorista responsável pelo atentado. Duncan Jones brinca com as referências de seu protagonista, faz com que interaja com os outros passageiros dentro de uma rotina pré-estabelecida, busca suspeitos em potencial com toda a angústia possível para os oito minutos da missão e esbarra na expectativa de poder mudar o futuro. Neste ponto o filme se torna mais dramático ao percebermos que o universo ao qual Colter interage é um mundo paralelo (o Código Fonte do título em inglês) e não importa quantas vezes ele procure alterar os fatos, o passado já aconteceu. O roteiro é esperto em saber que não importe quantos truques narrativos utilize, o filme não poderia se ancorar somente neles e insere questionamentos sobre a ética do projeto (afinal de contas o que houve com Colter? Ele está vivo ou morto? Por ser parte da experiência ele não pode ter vontade própria?) e neste ponto conta com o apoio da militar Coleen Goldwin (Vera Farmiga), que mesmo diante da importância do projeto não perde a noção de que está lidando com um ser humano em meio àquela confusão. Misturando referências que vão de Bill Murray preso no dia da marmota na comédia Feitiço do Tempo (1993), passando pelo alemão Corra, Lola, Corra (1998) até o filme de ação Déjà Vu (2006), Contra o Tempo é um filme eficiente para quem busca entretenimento original e bem elaborado, mas nada disso garantiu que fosse um sucesso de bilheteria no verão americano (no Brasil sua estreia foi adiada inúmeras vezes e a bilheteria foi modesta - mas a arrecadação mundial foi quatro vezes maior que seu custo). No entanto, o filme merece ser conferido nem que seja pelo seu final enigmático.
Contra o Tempo (Source Code/EUA-França-2010) de Duncan Jones com Jake Gyllenhaal, Vera Farmiga, Jeffrey Wright, Michelle Monaghan e Michael Arden. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário