Leo e Jack: o mocinho e o malvadão.
Não há dúvida de que o currículo de Martin Scorsese merecia um Oscar há muito tempo. Diretor de clássicos como Touro Indomável (1980), Os Bons Companheiros (1990) e (o meu favorito) Taxi Driver (1976), o diretor só foi reconhecido pela Academia em 2007 por Os Infiltrados. Muitos fãs já estavam com aquela sensação desconfortável de que um dos mestres da sétima arte receberia um desses Oscars pelo conjunto da obra, que parece menos uma homenagem e mais um pedido de desculpas (me desculpem fãs, mas é isso que irá acontecer com Glenn Close). Antes de Os Infiltrados, Scorsese andava se esforçando para agradar a Academia - fez Gangues de Nova York (2002) e O Aviador (2004) com toda a pompa que costuma agradar ao tio Oscar, mas só vieram indicações. O filme que lhe rendeu o Oscar de direção marcou o seu retorno ao cinema nervoso de outrora, mas está longe de ter a genialidade dos seus maiores clássicos. Para começar é um raro caso de filme refilmado que ganhou o prêmio de Melhor Filme, afinal trata-se da versão americana para o coreano Conflitos Internos (2002) que usava a interessante premissa de contar a história de um bandido infiltrado num grupo de policiais e um policial infiltrado no meio de bandidos. Pode ser um preconceito idiota de minha parte, mas acho estranho considerar o melhor filme de 2006 uma refilmagem. Enfim, vamos ao filme. Leonardo DiCaprio (em sua terceira parceria com o diretor) é Billy, um policial que investiu anos de sua vida na missão de construir um histórico capaz de ser digno de participar do grupo do sanguinário gangster Frank Costello (Jack Nicholson). Ironicamente, os gangsters também construíram um rapaz capaz de galgar os postos mais altos entre os investigadores da polícia, trata-se de Collin Sullivan (Matt Damon) que tem a função de estragar qualquer ameaça policial aos negócios de Costello. As histórias de Collin e Billy são contadas paralelamente até se cruzarem, não só por conta dos lados opostos que estão, mas também pela atração de Billy por Madolyn (Vera Farmiga, indicada ao Globo de Ouro de coadjuvante e sendo percebida em Hollywood). Além de tratar de personagens infiltrados em ambos os lados, Scorsese borra as diferenças entre polícia e bandido (e chega ao extremo de revelar aos poucos que havia outros infiltrados durante todo o filme). A direção é tensa e existem cenas de ação de tirar o fôlego - e com trilha sonora de primeira. Tiros, sangue e muita testosterona ajudaram a chamar a atenção para um filme que tenta manter o equilíbrio para não cair no exagero - e nessas horas o humor aparece em momentos inusitados. O elenco ainda conta com Alec Baldwin, Martin Sheen, Ray Winstone e Mark Wahlberg que acabou rindo por último ao ser o único lembrado entre os indicados ao Oscar. No meio de tantos policiais bandidos e bandidos policiais, Wahlberg mantém a carranca incorruptível por toda a sessão - mesmo quando os protagonistas parecem ser dizimados impiedosamente. O sucesso de público e crítica - além dos quatro Oscars que recebeu: filme, direção, roteiro adaptado e edição chegou a gerar boatos sobre uma continuação, mas que não se concretizou. Apesar de tanta celebração o filme não está entre os meus favoritos com a assinatura de Scorsese, por vezes me parece longo e confuso, mas ainda assim é um dos melhores policiais na década passada.
Os Infiltrados (The Departed/EUA-2006) de Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Vera Farmiga e Alex Baldwin. ☻☻☻
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