Sturgess: andando, andando, andando, andando...
Peter Weir é um caso estranho de cineasta, ele é capaz de elaborar filmes queridinhos dos intelectuais (Sociedade dos Poetas Mortos/1989), sucessos de bilheteria (O Show de Truman/1998) e garantir vaga no Oscar mesmo para aqueles filmes que são difíceis de cativar a massa ou os intelectuais de plantão (Mestre dos Mares/2003 ). Talvez por já contar com cinco indicações ao Oscar, além de outros prêmios, depois de cinco anos de jejum cinematográfico, ele resolveu dirigir um filme tão ambicioso quanto difícil: Caminho da Liberdade. A trama podia ser até interessante com base numa história real (e como todo filme que se vale desta premissa mostra algo inacreditável para a plateia). Trata-se da história de sete prisioneiros do governo comunista de Stalin na União Soviética que em 194 resolveram fugir para a Índia caminhando mais de 6.500 quilometros, sofrendo toda e qualquer adversidade que a natureza possa proporcionar. O roteiro é baseado no livro de memórias do oficial do exército polonês Slamovir Rawicz, no entanto, há quem duvide da veracidade dos fatos narrados e mostrados no filme, já que Slamovir não apresentou provas de que a longa jornada tenha realmente acontecido - vendo o filme fica realmente difícil imaginar que em meio à fome, sede, caminhadas no deserto e entre geadas um fugitivo estivesse preocupado em juntar provas de veracidade! No filme, Rawics pode ser interpretado com o nome de Janusz (o bom Jim Sturgess), que ao ser considerado espião (com a ajuda do testemunho de sua própria esposa) é condenado como traidor e vive num gulag soviético com outros homens em condições insalubres. Numa atmosfera onde todos são inimigos a ideia de fugir surge de um ator que se diz preso pela censura (Mark Strong), mas é Janusz que consegue um grupo de prisioneiros capaz de fugir durante uma tempestade de gelo. Deste ponto em diante, Weir tem que rebolar um bocado com sua câmera para prender a nossa atenção. O diretor demonstra simpatia pelos seus personagens, mas não entrega muitos elementos para que seu elenco possa desenvolvê-loas. É visível o esforço de Sturgess e do veterano Ed Harris para arrancar alguma emoção de um roteiro cansativo e arrastado que parece se preocupar mais em fotografar belas paisagens. Acho que Weir imaginou que os personagens já tinham um grande desafio pela frente e optou por atenuar qualquer conflito que as diferenças pudessem despertar, conforme o filme caminha para o desfecho, falta transformar os personagens em gente de verdade. O pior exemplo disso é o ladrão vivido por Colin Farell, que ao invés de causar medo na plateia (por seus adjetivos sanguinolentos) pode causar risadas pelos exageros aos quais o ator se apóia. Nós até pensamos que a coisa vai melhorar quando entra uma jovenzinha para o grupo (Saoirse Ronan, sem muito o que fazer), mas logo nos decepcionamos. Faltou ao roteiro explorar as relações nas dificuldades enfrentadas pelos personagens. Ao fim da sessão, fica em nossa mente somente as paisagens e a sensação de tanta confiança no próprio taco fizeram desse o filme mais pretensioso e egocêntrico de Peter Weir - que foi lembrado entre os indicados de Melhor Maquiagem no Oscar do ano passado.
Caminho da Liberdade (The Way Back/EUA- Emirados Árabes - Polônia) de Peter Weir com Jim Sturgess, Ed Harris, Colin Farrell, Saoirse Ronan e Mark Strong. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário