Willis e Pitt: Quem é louco?
Em 1995, Brad Pitt estava longe de ser reconhecido como um bom ator. A crítica pegava no pé do rapaz desde que estrelou o choroso Lendas da Paixão (1994), nem adiantava fazer cara de malvado em Kalifórnia (1994) ou se esforçar em Se7en (1995), os críticos gostavam de ressaltar como as atuações de Brad eram sem emoção e que ele era apenas um rostinho que atraía a mulherada. Talvez Bruce Willis tivesse razão ao ter pena de Brad ser considerado tão bonito - e que isso iria fazer com que seu talento demorasse a ser reconhecido. Willis dividiu os créditos com Brad quando o amalucado Terry Gillian resolveu adaptar o curta La Jetée para o formato de longa metragem. A trama cheia de idas e vinda no tempo é um deleite para os fãs de ficção científica e deu a Brad Pitt o seu primeiro tipo esquisitão (o que lhe rendeu o Globo de Ouro de Ator Coadjuvante e sua primeira indicação ao Oscar). Bruce Willis interpreta James Cole, um dos poucos sobreviventes à uma praga que eliminou 99% da população mundial. Num futuro gélido e não muito distante (2035) a humanidade vive confinada nos subterrâneos em meio a experimentos que sejam capazes de combater a catástrofe - inclusive viajar no tempo. Cole é o escolhido para voltar no tempo e conter a ameaça, mas um erro de cálculos acaba o enviando para uma época anterior - onde é diagnosticado como esquizofrênico e levado para um hospício. Lá conhece a psiquiatra Kathryn Railly (Madeleine Stowe em seu último grande papel no cinema), que investigará se interessa por casos classificados como Síndrome de Cassandra (inspirado na mito grego de Cassandra, que sonhava com o futuro, mas não conseguia modificar o futuro por ninguém acreditar no que ela dizia). Existe certa tensão sexual entre os dois personagens, mas o roteiro tem outros assuntos a tratar. Um deles é o fato de Cole conhecer o doidinho elétrico Jeffrey Goinnes (Brad Pitt, que imita movimentos e olhares de macaco durante o filme), filho de milionário e que terá participação importante na trama. Não vai demorar muito para que o viajante retorne ao futuro e seja (após pequenos ajustes) mandado para o tempo certo com o objetivo de conter a ameaça do grupo ecoterrorista 12 Macacos - a quem se atribui a dissiminação do vírus letal. O mais interessante do filme é a forma como Terry Gillian brinca com as percepções da plateia inserindo na narrativa os sonhos (ou seriam delírios? ou lembranças?) de seu protagonista ao mesmo tempo em que questiona quem é o dono da verdade. Além desse recurso, insere outros dilemas para os seus personagens (não são poucas as suspeitas de que Cole plantou a ideia da utilização do vírus em sua primeira viagem no tempo, o reconhecimento de que o que é considerado impossível pode acontecer que o tempo construiu um ciclo de acontecimentos irreversíveis...). Faz tempo que Gillian não entrega um filme tão engenhoso (mas que foi lembrado no Oscar somente nas categorias de figurino e ator coadjuvante), embora o filme contenha todas as esquisitices apreciadas pelo cineasta, aqui elas encontram uma coesão mais coerente que a de muito filme linear que vemos por aí. Embora algumas pessoas possam considerá-lo confuso, tudo fica explicado no final, que, embora não seja feliz, fecha o roteiro de forma eficiente e impactante - isso sem falar na trilha sonora clássica (meio tango argentino) que nos faz remeter ao filme imediatamente. Os 12 Macacos é mais do que uma viagem no tempo, trata-se de uma viagem ideologicamente cinematográfica sobre seu autor.
Os 12 Macacos (12 Monkeys/EUA-1995) de Terry Gillian com Bruce Willis, Madeleine Stowe, Brad Pitt , Christopher Plummer e David Morse. ☻☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário