Rafael, Nino e Norma: humor para driblar o melodrama.
Em tempos de Copa é perigoso até falar do cinema argentino (ainda mais se o filme em questão é o filme favorito do Messi!). O cinema dos nossos vizinhos é mais respeitado que o nosso, dentro e fora do país de origem, além do cinema argentino ser responsável pelos dois Oscar de filme estrangeiro concedidos à América Latina - o drama A História Oficial (1985) de Luiz Puenzo e o policial O Segredo dos Seus Olhos (2009) de Juan José Campanella. Entre um e outro estava O Filho da Noiva, dramédia dirigida pelo mesmo Campanella que concorreu ao Oscar em 2001. Embora não seja tão engenhoso quanto o filme de 2009, o diretor consegue lançar um olhar terno sobre os seus personagens e ainda trabalhar um pouco a história da identidade de seu país através deles (não por acaso escolheu o casal protagonista de A História Oficial para ser o casal idoso de seu filme). O protagonista é Rafael (vivido pelo onipresente Ricardo Darín), que administra o restaurante fundado pelos seus pais. Seus pais agora são idosos, embora o pai, Nino (Hector Altério) ainda seja bem articulado com o mundo à sua volta, sua esposa, Norma (Norma Aleandro) sofre de mal de Alzheimer e vive num asilo. Diante do drama de Norma, Nino considera que seria bom realizar um dos maiores desejos dela: casar-se na igreja - já que pelo seu passado comunista, Nino não considerava necessário render-se à convenção religiosa da esposa. Rafael considera a ideia do pai uma sandice (até por conta da memória da mãe), mas aos poucos ele começa a entender os motivos do pai. Com exceção do casamento nunca consumado religiosamente, Nino é bem resolvido com sua trajetória, já Rafael é um personagem bastante diferente. Sobrevivendo ao trabalho, a um divórcio e à guarda compartilhada da filha, o homem é puro estresse - o que compromete até o seu relacionamento com a atenciosa namorada Naty (Natália Verbeke). Às vezes até o próprio Darín se afoga nos exageros do personagem, comprometendo um pouco que o espectador compre a ideia do filme, mas aos poucos, a produção mostra-se mais espirituosa do que o esperado - sobretudo no curioso reflexo da relação de Nino & Norma sobre a relação de Rafael & Naty (que gera algumas das melhores cenas do filme). Apesar dos dramas dos personagens, o filme evita cair no melodramalhão com uso do humor (duas piadas são históricas: a da filha que pode ir para o México "estudar com Professor Girafales" e do padre que diz que "Deus não é preto, não é branco, não é homem nem mulher" e Rafael o interrompe dizendo "Não, padre, esse não é Deus... é Michael Jackson"). Também ajuda muito na simpatia do filme o personagem Juan Carlos (Eduardo Blanco), o amigo de infância de Rafael que tem seus dramas para contar, mas que ajudará o amigo a repensar seu desbocado "projeto de vida". No fim das contas, O Filho da Noiva é sobre aquele ponto onde você precisa tomar decisões que podem ser dolorosas, mas que precisam ser tomadas, afinal de contas, quem disse que pensar os próprios passos era tarefa fácil? Talvez esse seja o maior legado de Nino ao seu filho: enquanto se vive, sempre é tempo de agir!
O Filho da Noiva (El Hijo de la Novia/Argentina-2001) de Juan José Campanella com Ricardo Darín, Hector Altério, Norma Aleandro, Natália Verbeke e Eduardo Blanco. ☻☻☻
O Filho da Noiva (El Hijo de la Novia/Argentina-2001) de Juan José Campanella com Ricardo Darín, Hector Altério, Norma Aleandro, Natália Verbeke e Eduardo Blanco. ☻☻☻
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