Pussy Riot em ação: performance satírica e prisão.
A grupo punk feminista russo Pussy Riot ganhou as manchetes mundiais quando três de suas integrantes foram presas após realizar uma manifestação na histórica Catedral Cristo Salvador de Moscovo. Acusadas de vandalismo motivado por intolerância religiosa, as três se tornaram alvo da mídia e do tratamento jocoso de sua terra natal. O documentário da dupla Mark Lerner e Maxim Pozdorovkin utiliza esse fato para explorar algo que vai além do grupo de mulheres de roupas e capuzes coloridos, mas a situação da Rússia em seu árduo processo de transição para o capitalismo e o efeito de Vladimir Putin no imaginário dos descontentes. Putin é na verdade a maior causa para a apresentação malfadada das meninas, já que quando diziam "sujeira de Deus" na música gritada na Catedral, era a ele que se referiam e não à religião. Mas esse é apenas um dos aspectos abordados pelo filme, já que a produção busca o histórico das três punks que foram presas e exibe o quanto a história recente da Rússia afetou suas respectivas identidades. Não deve ser fácil ser jovem num país onde a contestação ao sistema vigente é visto como uma ameaça neo-bolchevique. Enquanto as meninas apresentam seus argumentos ideológicos, seus acusadores preferem ridicularizá-las e ofendê-las (com o auxílio do próprio nome da banda, que seria algo como "Greve das Vaginas"). Ao invés de argumentar contra o discurso anti-status quo presente na política ou na relação entre homens e mulheres na sociedade russa, as acusações que caem sobre o grupo chamam tanta atenção quanto ao tratamento que recebem na corte. Quem ouviu apenas as reportagens veiculadas na televisão sobre o grupo irá se surpreender ao perceber que o grupo é formado por aproximadamente dez mulheres - e alguns ajudantes que filmam suas apresentações sempre em locais estratégicos para os protestos. As identidades são preservadas pelo uso de balaclavas coloridas que confere uma imagem ainda mais agressiva ao grupo, apesar das cores berrantes (o visual parece ter inspirado as personagens desmioladas do filme Spring Break/2013). Musicalmente o grupo é bastante sofrível, já que o punk rock gritado em russo pode não empolgar em sua musicalidade improvisada, geralmente apresentada sem muito ensaio, mas o que vale para as meninas são as letras de protesto, carregadas da insatisfação perante o quadro sócio-político que se consolidou nos últimos anos. No fim das contas, O Protesto Punk é um filme sobre os fantasmas da Rússia, já que pouco fala das influências musicais ou estéticas (e acredite, elas tem fortes referências) e mais sobre a história do país que gerou toda aquela confusão na igreja (que também tem sua história esmiuçada). Da preparação do julgamento das moças, passando pelas entrevistas dos familiares e da ira que despertam nos demais (que fingem não entender do que as garotas estão falando), o filme deixa bem marcado o quanto pode ser sufocante viver na terra de Lenin e Stalin. Mas no fim das contas, quando as meninas se declaram "palhaças" diante do júri, para pouco depois as outras integrantes fazerem um show diante do presídio, vemos que o circo continua a todo vapor seja dentro ou fora do palco.
Pussy Riot - O Protesto Punk (Pussy Riot - A Punk Prayer/Rússia - Reino Unido / 2013) de Mark Lerner e Maxim Pozdorovkin ☻☻☻
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