Khan: as primeiras conquistas.
Certo dia conversava com um amigo professor de História sobre a minha dificuldade em apreciar os grandes épicos. O motivo da conversa era a saga literária Game of Thones e minha dificuldade em curtir o seriado (que ele nem assiste). Lembro que eu dizia que os épicos sempre me incomodavam por deixarem os personagens em segundo plano em favor da estética, das cenas de batalha, dos figurinos, da sanguinolência... sei que não são todos que cometem esse erro, mas a grande maioria que costuma calcular o sucesso somente na bilheteria. Portanto, fiquei surpreso com esse filme realizado numa parceira entre Rússia, Alemanha, Cazaquistão e Mongólia. Dirigido pelo russo Sergei Bodrov, o filme concorreu ao Oscar de filme estrangeiro em 2008 - e talvez até merecesse mais o prêmio do que o ganhador daquele ano, o austrúaco Os Falsários/2007. Desde o início Bodrov faz um caminho que aponta para o contrário do que afirmei nas primeiras linhas da postagem. Começando a contar a história do conquistador mongol Genghis Khan a partir de sua infância, mais precisamente quando escolhe, ou melhor, é escolhido pela sua pequena futura esposa, é visível que o autor preocupa-se com a construção do homem por trás da lenda. Ambientado na segunda metade do século XII, a reconstituição de época é bem cuidada, assim como as locações bem escolhidas para representar, com maestria, o período conturbado em que viveu o personagem. Genghis Khan ainda era conhecido como Temudjin no período contado pelo filme, período muito complicado na vida do personagem histórico, mas que serve para mostrar de onde surgiu a força que o tornaria tão conhecido. Temudjin vê o pai ser assassinado, lida com perseguições à sua família e é tomado como escravo várias vezes. Vivido pelo japonês Tadanobu Asano (o Hogun, parceiro de Thor nos filmes), o personagem parece banhado de uma retidão e generosidade incomuns, sorte que tinha uma parceira fiel em sua esposa, Börte (Khulan Chuluun) - eles sempre se protegiam num mundo que parece destituído de leis. Assim, Temudjin precisa lutar pela sua sobrevivência desde cedo, seja ao lado da família, da esposa ou de aliados até que é comprado pelo imperador chinês como exemplo de como os mongóis deviam ser humilhados tratados. Diante de tantas dificuldades, Temudjin torna-se um estrategista brilhante, ao ponto de ser sempre uma ameaça aos líderes da época, inclusive seu outrora aliado Jamukha (Honglei Sun) com quem disputará a liderança dos mongóis e se tornará figura importante na construção de um império. Para além dos fatores históricos e culturais (ressaltando a amplitude dos "laços familiares" na vida dos grupos), Sergei Bodrov capricha no desenho heroico de seu protagonista e de sua esposa, embalado por cenas de batalha assustadoramente vigorosas e belos enquadramentos em várias cenas a longa duração (126 minutos) não incomoda. Concebido para ser o capítulo inicial de uma trilogia, apesar dos diálogos simples, o filme cumpre o seu papel de contar a história do personagem antes que ficasse conhecido por suas maiores conquistas.
O Guerreiro Genghis Khan (Mongol: The Rise of Genghis Khan/Rússia-Alemanha-Cazaquistão- Mongólia/2007) de Sergei Bodrov com Tadanobu Osano, Khulan Chuluun e Honglei Sun. ☻☻☻☻
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