Colin e Noomi: sede de amor e vingança.
O diretor dinamarquês Niels Arden Oplev pode se gabar de ter deixado David Fincher para trás, pelo menos no que diz respeito à adaptação da série Millenium para a telona. Foi Oplev que dirigiu a versão sueca para a primeira parte da trilogia de Stieg Larsson sobre a relação entre a cyberpunk Lisbeth Salander e o jornalista Michael Nyqvist. Era visível que a versão de Oplev bebia diretamente nos primeiros filmes de Fincher com seu tom sombrio alimentando um suspense crescente. Não por acaso, quando Hollywood inventou de fazer sua própria versão de Milleniium para a telona, convidaram o próprio Fincher, mas no fim das contas, é o filme de Oplev que mostrou-se mais eficiente e coerente com a história. Muito dos méritos do cineasta é devido à escalação da vigorosa Noomi Rapace para o papel de Lisbeth. Apesar da versão americana ter rendido uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Rooney Mara, é Noomi que se tornou referência mundial da personagem de visual punk. Tudo isso torna ainda mais justo que, quando convidado para dirigir uma produção americana, Niels convide Noomi para ser sua protagonista. Apesar de tornar a personagem Beatrice marcante, a atriz é coadjuvante nesta trama de vingança um tanto truncada protagonizada por Colin Farrell. Farrell é o misterioso Victor, que vive metido nas ações de uma gangue de criminosos. O espectador ficará perdido no início sem saber exatamente o que está acontecendo em meio aos tiros e perseguições do início, mas a intenção do diretor é essa mesmo. Eis que um dia Victor fica instigado com a vizinha que o observa no prédio da frente e os dois acabam se encontrando. Ela se chama Beatrice e sofre com as várias cicatrizes deixadas por um acidente de carro. Por conta das cicatrizes a moça realizou várias cirurgias para desfazer o estrago em sua aparência, mas as marcas psicológicas são ainda mais profundas. Beatrice sabe de um segredo de Victor e o utiliza para chantageá-lo, pedindo em troca de seu silêncio que Victor assassine o homem que provocou o acidente. Noomi dá conta do lado mais obscuro de sua personagem, enquanto Collin consegue manter o caráter de seu personagem em suspenso durante boa parte da sessão. No entanto, a dureza dos personagens com sede de vingança, dilui-se que o carinho que um passa a nutrir pelo outro. O mais interessante do filme é que enquanto pensamos que a trama irá manter a tensão da relação entre os dois, num caso de reflxos da vingança de um sobre a do outro, a coisa descamba para um romance entre os dois personagens. Romance esse que poderá ser capaz de curar as cicatrizes do casal, mas que não combina em nada com a doses cavalares de violência sádica que o filme exibe. Sem Perdão torna-se quase "sem noção" nos caminhos que segue, dependendo basicamente de sua dupla de atores para manter a credibilidade na overdose de reviravoltas que nem sempre funcionam como deveriam - já que o espectador mal digere uma novidade, esta se desmonta no caminho de uma outra. Quando tudo fica esclarecido, fica a impressão que o diretor complicou demais uma trama simples de romance e vingança, se fosse mais enxuto, o resultado poderia ser mais harmônico e benevolente à atuação de seu elenco competente- que inclui até a diva Isabelle Huppert na pele da doidivana mãe de Beatrice.
Sem Perdão (Dead Man Down/EUA-2013) de Niels Arden Oplev com Colin Farrell, Noomi Rapace, Dominic Cooper, Terrence Howard e Isabelle Hupert. ☻☻☻
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