Hazel e Gus: atores mais que certeiros.
O maior desafio de fazer um filme baseado no sucesso de John Green, A Culpa é das Estrelas é fraquejar na direção e deixar que o sentimentalismo mais rasteiro tome conta da narrativa. Em todo o livro você pode sentir o esforço do autor para não cair nas armadilhas de contar a história de amor de dois jovens que sobrevivem ao câncer pelo viés mais manipulador. Com esse desafio pela frente, o diretor Josh Boone mostra-se bastante eficiente. Boone dirigiu anteriormente Ligados pelo Amor (2012), filme que permanece inédito por aqui, mas que já apresentava a habilidade do diretor em lidar com clichês de forma pouco óbvia. Aqui, ele conta com a ajuda de dois bons jovens atores de Hollywood, a protagonista Hazel Grace ficou a cargo de Shailene Woodley (que confirma aqui toda a atenção que merecia em Os Descendentes/2011) e seu par, Augustus Waters é personificado com luminosidade solar por Ansel Egort. Hazel é uma adolescente de 16 anos com câncer de tireoide e metástase pulmonar em estágio avançado, motivo pelo qual carrega um balão de oxigênio para todo lugar. Ela tem total consciência do que o destino lhe reserva e, por isso mesmo, não vê com bons olhos o tom edificante das reuniões de um grupo de apoio que os pais a inscreveram. É no grupo que conhece Augustus, e tudo o que Hazel tem de realismo, Augustus tem de otimismo. Gus perdeu uma perna para um osteossarcoma que está em remissão, e por isso mesmo, tem as expectativas em alta, especialmente no relacionamento com Hazel - mas as diferenças do ponto de vista sobre a vida aparecem logo no início e comprometem os interesses do rapaz. A primeira cena onde ambos se confrontam mostra que as perspectivas de ambos serão complementares no relacionamento que ganha forma na química adorável que nasce com os dois atores. Boone evita o sentimentalismo com as fartas doses de humor negro do livro e ainda tem um poder de corte certeiro na adaptação do livro para a telona (girando em torno de Hazel, muitos elementos sobre Gus ficaram de fora como os comentários de sua ex-namorada, sua irmã e sobrinhos, a série de livros que ele admira, os jogos de video game...), o que pode chatear os fãs mais xiitas, na tela não faz muita diferença, já que Ansel constrói um mocinho iresistível em seu otimismo (mas que pode ser um doloroso processo de negação). Boone ainda conta com um naipe de coadjuvantes respeitáveis como Laura Dern (ótima como a mãe de Hazel) e Willem Dafoe (confortável como o escritor ídolo de Hazel), além dos pouco conhecidos Sam Trammel (o pai de Hazel) e Nat Wolff (como Isaac, o amigo mais popular do casal protagonista), além da embalagem na medida certa para se comunicar com os adolescentes - diálogos por SMS, trilha pop agridoce (com artistas que gosto bastante como Birdy, The Radio Dept e M83), fotografia límpida, games... -, afinal é o público fundamental para o sucesso do livro. Como dá para perceber, a versão para a tela de A Culpa das Estrelas é um acerto, uma vez que não foge dos conflitos de seus personagens e de expor o inevitável destino de seus protagonistas. Vale ressaltar que Shailene e Ansel trabalharam juntos no recente Divergente (2014), mas é aqui encontram o material necessário para que suas estrelas brilhem mais (e merecidamente) em Hollywood.
A Culpa é das Estrelas (The Fault in our Stars/EUA-2014) de Josh Boone com Shailene Woodley, Ansel Egort, Laura Dern, Willem Dafoe, Sam Trammel e Nat Wolff. ☻☻☻
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