Ellen e Rainn: heróis perturbados.
Quando a Marvel diz que tem filmes planejados até o ano de 2028, com uma média de dois longas por ano, temos a ideia de como os filmes de super-heróis devem ficar na moda por bastante tempo (principalmente se levarmos em consideração que a DC Comics também lançará vários títulos até lá). De vez em quando aparece um filme que bebe na fonte desses seres poderosos com um olhar diferente. Foi assim com Corpo Fechado (2000) e seu personagem inquebrável, nas referências clássicas presentes na família de Os Incríveis (2004) e no realismo ultraviolento de Kick-Ass (2010). O pouco famoso Super é quase um primo pobre de Kick-Ass. Super é sobre um homem comum, que não é bonito, não é milionário e nem tem super poderes, mas que resolve fazer justiça de sua maneira... desengonçada. Esse sujeito é vivido com toda a peculiaridade que lhe cabe por Rainn Wilson, seu Frank Darbo possui elementos que podem lhe conferir tons cômicos e trágicos com toques de desequilíbrio emocional. Afinal, ele tem um emprego sem graça numa lanchonete e a única motivação de sua vida é a bela esposa (Liv Tyler) - mas eis que ela se cansa do relacionamento seguro e se rende num caso perigoso com um sujeito esquisito chamado Jacques (Kevin Bacon), o qual Frank sempre chama de Joke. Se Frank tem algum super-poder são as alucinações que tem de vez em quando que lhe avisam sobre o mal que as pessoas possuem e, depois de uma revelação num sonho bem esquisito, ele descobre que precisa ser um herói para combater o crime. Assim, surge Crimson Bolt, o herói com o uniforme mais mal-feito de todos os tempos. Sua arma secreta é uma chave grifo que desce sobre seus oponentes sem cerimônia. No entanto, Frank mostra-se um cada vez mais perturbado no combate ao crime (chegando a agredir pessoas que furam fila), mas ele ainda perde para sua parceira de empreitada, Boltie (Ellen Page), uma garota tresloucada que parece entender que a vantagem de ser super-herói é a licença para usar a violência sobre seus desafetos. Não demora para que o roteiro aponte Jacques como o grande vilão da história e que a esposa de Frank é a mocinha a ser resgatada. O maior problema de Super é que o roteiro é frouxo e mistura referências das HQs sem uma boa costura, assim aparece o fetiche pelos uniformes até as onomatopéias num universo onde o humor infantil tenta conviver harmoniosamente como a violência explícita de sangue jorrando, tentativa de estupro e miolos espalhados. O resultado pode até fazer rir em alguns momentos, mas fica devendo no tratamento propositalmente tosco que o diretor James Gunn imprime à produção - que tem lá seu grau de ousadia. Gunn tem um histórico bastante coerente com o estilo de humor que vemos na tela, afinal ele já assinou o trash Seres Rastejantes (2006) e Super o credenciou para dirigir o episódio Beezel do filme Para Maiores (2013) - aquele curta do gatinho mal caráter que tem fetiche pelo dono. Mas o seu olhar cômico diante dos super-heróis fez a Marvel lhe confiar a direção do aguardado Guardiões da Galáxia que é um dos filmes mais esperados de 2014. Super deve ser seu último filme de pequeno porte.
Super (EUA/2010) de James Gunn com Rainn Wilson, Ellen Page, Kevin Bacon e Liv Tyler. ☻☻☻
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