Michelle: melhor atriz no Festival de Berlim em 1992
Michelle Pfeiffer é uma dessas atrizes lindas que concorrem ao Oscar e nunca ganham. No final dos anos 1980 e durante a década de 1990 a loura esteve no auge, concorrendo três vezes ao Oscar e perdendo todas elas. Talvez cansada de tudo isso, fez uma pausa de cinco anos na carreira, precisamente de 2002 até 2007. Durante esse tempo se dedicou à família e se afastou dos holofotes. Quando retornou realizou filmes celebrados como as versões para a telona de Hairspray (2007), Chéri (2009) e Sombras da Noite (2012). Mas quem acompanhou o auge da atriz percebe que a carreira perdeu fôlego - ainda que sua beleza e talento permaneçam intactos. A última vez que a Academia se rendeu ao seu trabalho foi com Love Field (que no Brasil recebeu o subtítulo capenga de As Barreiras do Amor), obra que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz em Berlim em 1992 (mesmo ano que ela imortalizou a Mulher-Gato nas telonas pelas mãos de Tim Burton). Dirigido por Jonathan Kaplan e escrito por Don Roos (que depois estreou na direção com O Oposto do Sexo em 1998), a história se passa em 1963, um ano bem específico da história americana. Ambientado nos dias em que os EUA tentavam digerir o assassinato de John Kennedy, o filme retrata o interesse da dona de casa Lurene Hallett (Pfeiffer) em presenciar o funeral do presidente. Fã de Jaqueline Kennedy (da qual curiosamente copia as roupas e o corte de cabelo - apesar de platinado como a Marilyn dos pesadelos de Jackie), a jornada de Lurene serve para que ela conheça uma realidade bem diferente do que a televisão e os jornais divulgavam, já que ela cruza o caminho do misterioso Paul Cater (Dennys Haysbert) e sua filha. O que era para ser uma carona, acaba virando um jogo de desconfianças para Lurene, gerando um mal entendido que irá dificultar o caminho dos três personagens. Enquanto Lurene descobre que seu país ainda tinha que melhorar muito para superar a tensão racial existente, a pátria chora por uma das personalidades políticas mais carismáticas do século XX. Nos poucos dias em que convive com Paul e a filha, Lurene passa da mulher deslumbrada com o american way of life para uma pessoa consciente do mundo que estava fora das paredes da comodidade de seu lar, ao ponto de Lurene questionar seu próprio relacionamento com o esposo autoritário e até agressivo. As relações e conflitos de Love Field podem até apontar para um romance inevitável entre Lurene e Paul, na representação de dois mundos que se encontram quase por acaso, mas a intenção é mais do que essa. Trata-se de um retrato de um mundo que estava em transformação, onde o assassinato do presidente da maior potência inatingível do mundo demonstrava que debaixo de todo o discurso se escondiam intenções e discursos muito presentes nas relações. Nesse ponto, a transição dos personagens é fundamental, seja da frágil Lurene em alguém que toma consciência dos discursos que a cerca ou de Paul que permite-se confiar novamente em alguém. Kaplan pode até exagerar em alguns momentos cômicos ou até sensacionalistas de seu filme, mas Michelle e Dennis Haysbert estão sempre ali dispostos a equilibrar o que vemos na tela. Diante do mundo de som e fúria que se revela com o fim das expectativas da era Kennedy, torna-se antológica a cena em que Lurene percebe que debaixo de todo aquele aparato governamental e patriota, Jaqueline era apenas uma mulher de carne e osso, vulnerável como todos os mortais (incluindo o próprio John).
Love Field - As Barreiras do Amor (Love Field - EUA/1992) de Jonathan Kaplan com Michelle Pfeiffer, Dennis Haysbert, Brian Kerwin e Beth Grant. ☻☻☻☻
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