Aniello Arena e uma grande amiga: a vida é um reality show.
Em 2008 o diretor italiano Matteo Garrone se tornou um dos diretores mais falados do mundo por conta de Gomorra (2008). Bastou o filme ganhar a Palma de Ouro em Cannes - entre outros prêmios que culminaram na indicação ao Globo de Ouro de filme estrangeiro - para todo mundo crer que o filme levaria fácil o Oscar. O filme acabou esquecido pela Academia, o que gerou vários protestos. Repleto de qualidades e ousadias, Gomorra era polêmico demais ao contar a história de vários personagens que tinham suas vidas atravessadas de variadas formas pelo crime organizado. Com a violência crua e uma estética quase documental, o filme tornou o diretor em um queridinho da crítica e teve seu novo projeto aguardado ansiosamente. Quando lançou Reality no Festival de Cannes, ele levou para casa o Grande Prêmio do Júri, no entanto, o filme pode desapontar os desavisados. Reality é uma comédia interessante, mas que está longe de ter a solidez de sua obra anterior. A trama conta a história de Luciano (o parrudo Aniello Arena), um vendedor de peixe que gosta de brincar de ator para animar festas. É durante um casamento quando um dos seus números é ofuscado por um participante do Grande Fratello (O Big Brother italiano) que o personagem começa a pensar em participar do programa. Pressionado pela família a se inscrever na atração ele comparece a todas as etapas seletivas, confiante de que será selecionado. Além de vender peixes, Luciano também vive de alguns golpes ao lado da esposa envolvendo um eletrodoméstico carinhosamente chamado de "robozinho", mas quando ele acha que está sendo vigiado pelos produtores do programa, sua vida muda drasticamente. O personagem desenvolve uma espécie de obsessão, que o leva a vender a peixaria e até doar as coisas de sua própria casa para os vizinhos e moradores de rua. Tanta loucura afeta seu relacionamento com a família, que percebe que alguma coisa saiu do lugar na cabeça daquele homem. O mais interessante do filme é o fato do diretor fazer o mundo do protagonista virar um Big Brother criado por ele mesmo, que sempre acha que está sendo espionado e julgado. As suas expectativas se mesclam à ilusão do sucesso e a necessidade de aceitação. As cenas em que o personagem deixa de desfrutar da companhia de familiares e amigos para assistir os participantes do programa dançando, flertando ou debaixo das cobertas mostram o quanto a vida de Luciano era muito mais interessante do que o programa de TV. Reality mergulha gradativamente na obsessão de seu personagem e torna-se cada vez mais sombrio. Ainda que não chegue a impressionar como Gomorra, Garrone merece elogios por evitar repetir-se e investir num ator que passou vinte anos de sua vida na prisão por participar de uma gangue de Nápoles. Aniello Arena faz aqui seu primeiro e único papel no cinema (até o momento), mas consegue dar conta da complexidade de seu personagem com bastante desenvoltura. Só pelo seu desempenho o filme já vale e pena.
Reality - A Grande Ilusão (Reality-Itália/2012) de Matteo Garrone com Aniello Arena, Loredana Simioli, Claudia Gerini, Rafaelle Ferrante e Ciro Petrone ☻☻☻
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