Ben e Wiig: quando a fantasia não funciona.
A Vida Secreta de Walter Mitty é o tipo de filme que é sabotado por suas próprias expectativas. Fico pensando em como o diretor Ben Stiller ficou feliz quando Robert Downey Jr. foi indicado ao Oscar pelo seu filme anterior (Trovão Tropical/2008) e ele sentiu aquele gostinho de quero mais. Stiller demorou cinco anos elaborando seu novo filme inspirado na obra de James Thurber (1894-1961), renomado humorista e cartunista americano que era um dos colaboradores mais célebres da revista The New Yorker. As expectativas se acumulavam quando o elenco somava os nomes de Sean Penn, Kristen Wiig e Shirley MacLayne. Falava-se de prêmios, bilheterias astronômicas e a data de estreia foi na cereja da temporada de prêmios (25 de dezembro de 2013), mas quando foram publicadas as primeiras resenhas tinha-se a impressão que as opiniões sobre o filme eram bem divididas - com uma tendência a tornar o filme naquela obra em que todos resolvem falar mal na temporada. O problema é que Stiller fez um filme de narrativa bastante frágil. Desde o início percebe-se as boas intenções do diretor (misturada com um bocado de pretensão) ao contar a história do homem comum do título, que teve o auge de sua carreira trabalhando na prestigiada revista Life, cuidando dos negativos da publicação. Mitty ainda era conhecido como o maior contato do fotojornalista Sean O'Connell (Sean Penn), cujas fotos servem de inspiração (e "viagens") para Walter, que considera nunca ter conhecido ou feito algo interessante. Mitty tem o interesse amoroso por uma colega de trabalho, Cheryl (Kristen Wiig), tem contato com a mãe zelosa (Shirley MacLaine), uma irmã chata (Kathryn Hann) e sua vida poderia continuar presa à rotina inerte de todos os dias se a revista em que trabalha não fosse vendia para um grupo que irá enxugar a folha de pagamento enquanto a torna online. Essa mudança é encarnada pelo desagradável Ted Hendricks (Adam Scott), sujeitinho torpe de barba espessa (postiça e pavorosa) e que resolve pegar no pé de Walter - especialmente depois que ele perde um negativo que serviria para criar a foto que refletiria a "Quintessência" da revista - capturada pelas lentes de Sean. Visto dessa forma, o filme seria uma dramédia bastante comum, especialmente pelos elementos que misturam o cinemão hollywoodiano com uma linguagem que flerta com o cinema indie. Talvez o maior tropeço de Stiller seja lidar com as cenas de fantasia inspiradas na mente de seu protagonista, afinal, diante dos seus desejos abafados pela realidade, resta-lhe a fantasia como consolo. No entanto, a imaginação de Mitty é sempre inserida de forma exagerada no filme e o desequilíbrio com o restante do filme beira o constrangedor. São raras as vezes que a ideia funciona como deveria, uma delas é quando Mitty corre a frente de edições da Life e uma delas traz o seu rosto na capa, ou quando Cheryl canta Space Oddity para inspirá-lo a tomar decisões, fora isso, as cenas soam exageradas e um tanto desconectadas do resto do filme. Cenas como a de Mitty e Ted brigando feito dois super heróis pelas ruas da cidade soam apenas exageradas e isso prejudica bastante a comunicação da história que Stiller quer contar (tanto que desaparecem lá pela metade da sessão com o pretexto que Mitty "vive as fantasias"). É evidente que a trama é sobre um sujeito que precisa se arriscar, correr atrás dos seus sonhos e ser feliz, mas se falta sutileza no uso de suas fantasias, por outro, falta ânimo no lado realista da história. Apesar do bom elenco, ele não é capaz de fazer milagre com os diálogos pobres do roteiro, nem de garantir que as reviravoltas desinteressantes funcionem. Se A Vida Secreta de Walter Mitty tem boas intenções, bons atores, bons efeitos especiais, belas paisagens, ótima fotografia onde está o erro? Talvez no diretor. Ben Stiller é um ator e diretor eficiente quando lida com um humor bastante diferente do que vemos aqui. Quando vai para o escracho de Zoolander (2001) e Trovão Tropical (2008) ele se supera, mas ele ainda não consegue gerar uma comédia mais sofisticada e sentimental. Ou seja, Ben Stiller funciona quando é Ben Stiller e não quando tenta ser outra pessoa atrás de uma câmera.
A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty/EUA-2013) de Ben Stiller com Ben Stiller, Sean Penn, Kristen Wiig, Adam Scott e Shirley MacLayne. ☻
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