Paul e Daisy: dores, amores e crescimento.
Terminei de ler o livro Pessoas Normais de Sally Rooney no mesmo dia em que comecei a ver a série em cartaz no Starzplay aqui no Brasil (que você pode ver através de uma adição no Prime Video, aproveita que está em promoção). Se o livro de Sally já rendeu uma febre em alguns países, a série produzida pela BBC se tornou um fenômeno na Europa ao contar história de amor cheia de idas e vindas de Marianne (Daisy Edgar-Jones) e Connell (Paul Mescal). Os dois moram numa cidadezinha na Irlanda e estudam na mesma escola, mas existe uma proximidade entre os dois por conta dos dias em que Connell busca a mãe que trabalha na casa de Marianne duas vezes na semana. Ao invés de investir num romance proibido entre pessoas de classes sociais diferentes, a obra vai mais longe, aprofundando cada vez mais as incertezas perante seus sentimentos, seja um com o outro, seja consigo mesmo ou com quem está por perto. Some isso aos dramas pessoais de cada um e o que se vê é um casal que se ama, mas diante dos tropeços da vida ficam separados. Se os dois mantem os encontros em segredo no tempo da escola, a coisa desanda pela primeira vez pouco antes da formatura e dali em diante as feridas parecem nunca mais se cicatrizarem. Eles vão para a faculdade, vivem novos amores, procuram se manter, fazem novos amigos e sempre se esbarram no que sentem um pelo outro. É uma obra que vai além do romance com frases de efeito e cenas clichês das comédias românticas, falando nisso, Normal People não possui nada de comédia romântica, pelo contrário, aos poucos se aprofunda em temas bastante pesados, como relacionamentos abusivos (seja amorosos ou familiares), sentimento de inadequação, depressão e aquelas inseguranças que são capazes de nos fazer colocar tudo a perder. Com relação ao livro, a série apara algumas arestas e o resultado torna-se ainda mais fluído, demonstrando o crescimento gradativo dos personagens. Ponto alto do programa é a direção de Lenny Abrahamson (indicado ao Oscar pelo ótimo trabalho de O Quarto de Jack/2016 e imprime aqui a mesma estética cinematográficas sem firulas) que é tão discreta quanto emocional, conseguindo ótimos momentos de todo o seu elenco, especialmente de Daisy Edgar-Jones e Paul Mescal que convencem como casal apaixonado nos melhores (as cenas de sexo causaram furor na audiência) e piores momentos. O resultado é que além do sucesso de audiência o programa está indicado a 4 EMMYs: melhor direção, melhor roteiro dramático, melhor escalação de elenco e melhor ator (Paul Mescal). Senti falta de uma indicação para Daisy, já que ela tem um papel bastante complicado para lidar, seja pelos estranhos relacionamentos que possui e pela forma como sua personagem se enxerga perante tudo isso (a perda do pai, a agressividade do irmão, a mãe...). Normal People é uma minissérie que emociona por parecer real e, se você leu o livro, ficará com ainda mais vontade de ter uma nova temporada (mas pelo que vejo até agora, será difícil).
Normal People (Irlanda / 2020) de Lenny Abrahamson com Daisy Edgar-Jones, Paul Mescal, Desmond Eastwood, Aislín McGuckin, Sarah Greene, Frank Blake e Fionn O'Shea. ☻☻☻☻☻
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