No início do primeiro filme da trilogia Paradise, somos apresentados à Teresa (Margarete Tiesel) que antes de ir curtir as praias (e os habitantes) do Quênia, ela deixa a filha adolescente na casa de uma irmã. No segundo filme, Paradise: Faith ( ou Paraíso: Fé), somos melhor apresentados a esta irmã que é uma religiosa fervorosa. Anna Maria (Maria Hosftätter). trabalha em uma clínica e está prestes a entrar de férias, no entanto, muito se engana quem imagina que ela fará como a amiga e partirá para uma viagem. Ela irá ficar em casa e se dedicar ainda mais à pregação de sua fé. Além de visitar outros moradores das redondezas com a imagem de uma santa que precisa de abrigo, seus encontros por vezes geram discussões acaloradas com as pessoas que encontra. Seja um casal que é formado após o divórcio de um deles (afinal, aos olhos de Deus não existe divórcio, o que acabou gerando uma violação grave ao sexto mandamento por parte do casal), seja uma mulher que tem problemas com bebida ou um homem desorganizado que ainda não superou a morte da mãe. Ela também passa o tempo em encontros religiosos e tentando se preservar de um mundo que vive em pecado (embora a cena em que ela presencia uma orgia no parque seja um misto de sensações que nem ela esperava). Se o mundo lá fora é uma grande danação, a coisa em casa se complica quando o esposo volta a morar com ela após dois anos. Usando uma cadeira de rodas, Nabil (Nabil Saleh) evidencia uma dependência que poderia ser um verdadeiro teste para uma mulher tão devotada aos mandamentos de Deus. O problema é quando ele deseja que a vida de marido e esposa seja retomada em toda plenitude e Anna não está afim. Começa então um verdadeiro inferno dentro de casa, cuja tensão cresce entre violência verbal, física e psicológica. Dos insultos às lutas desengonçadas, a convivência entre os dois se torna cada vez mais insustentável. Diante dessa aprovação, Anna tenta manter a fé intacta, seja através de orações, encontros religiosos ou as cenas em que se autoflagela diante do crucifixo. Esse ideal de vida perfeita em um paraíso parece cada vez mais distante da personagem que, rumo ao desfecho não consegue mais disfarçar sua insatisfação no que parecia ser uma barganha com o que aceita enquanto divindade. Assim como Love, Paradise: Faith mistura a narrativa lenta com um humor ácido que brota justamente dos elementos dramáticos da narrativa. As repetições, as discussões, os exageros por vezes dão lugar a cenas polêmicas como aquele em que a protagonista se rende à atração que um crucifixo lhe provoca. A produção mantem o estilo provocador do primeiro filme, ainda que seja menos envolvente, seu olhar sobre a forma como a personagem percebe a fé e sua relação com o mundo pode levantar questões bastante interessantes.
Paradise: Faith (Paradies: Glaube / Áustria - Alemanha - França /2012) de Ulrich Seidl com Maria Hofstätter, Nabil Saleh, René Rupnik e Trude Masur. ☻☻☻
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