Melanie (Melanie Lenz) é uma garota de treze anos que a mãe acabou de tirar férias e ir para o Quênia. Ela, no entanto, foi passar o tempo numa colônia de férias que é na realidade uma espécie de SPA para adolescentes que estão acima do peso. A rotina é composta de fazer exercícios, receber conselhos nutricionais e se deliciar com comidas que não são muito atraentes. Obviamente que, por pior que seja esse ambiente, o grupo de adolescentes irão encontrar momentos para se divertir, mesmo que isso renda algumas punições. Obviamente que falando de adolescentes, não podemos esquecer os hormônios em ebulição que deixa alguns mais interessados em outros, alguns relatam suas experiências sexuais e outros vivem seus complexos com os corpos fora dos padrões. Não é por acaso que a terceira e última parte da trilogia Paraíso de Ulrich Seidl parece ser ambientada no inferno para adolescentes que já possuem problemas demais com a sua autoimagem. Melanie é a filha da sugar mamma de Paraíso: Amor (2012) e sobrinha da missionária fervorosa de Paraíso: Fé (2012) e aqui, a mocinha é a protagonista que terá problemas com alguém do sexo masculino. Se a primeira pagava para ter prazer com jovens quenianos e a segunda fugia do marido como o diabo foge da cruz, aqui, Melanie sofre com as incertezas do primeiro amor. No entanto, ela não está interessada em um jovem de dieta, ela está apaixonada por um dos médicos que prestam atendimento no campo em que ela foi passar as férias. Isso mesmo. Melanie se apaixona por Dr. Arzt (Joseph Lorenz), um homem quarenta anos mais velho que ela. O que poderia dar ao filme um aspecto explosivo, na verdade revela que depois das provocações dos filmes anteriores, Siedl preferiu implodir a sua premissa. A estranha atração entre Melanie e Arzt é evidente desde o primeiro momento em que estão juntos e se torna cada vez mais intensa ao longo do filme, embora ambos saibam o quão inadequado é toda aquela situação. A tensão surge da impressão que a qualquer momento, Arzt irá cruzar a linha do bom senso e sucumbir ao que sente pela menina, ou melhor ao que ela o faz sentir. Parece até uma variável de Lolita de Vladmir Nabokov, mas feita com discrição e sutileza inimagináveis após o que vimos nos filmes anteriores. A plateia observa atônita o jogo de atitudes que se instaura entre os dois personagens, soando por vezes como algo tão cômico como a repetição de exercícios a que as crianças precisam fazer ao longo do dia. Melanie Lenz está bastante convincente como a menina perdida nos sentimentos que a atravessa, mas não deixa de revelar que sua atração por aquele homem grisalho se relaciona um bocado com sua carência e outro tanto na esperança de que a maturidade a fará superar todas as inseguranças que sente. Melanie parece ver em Arzt uma fetichização da maturidade, algo para além das inseguranças de sua recém iniciada adolescência. Existe a ilusão que aquele senhor é responsável e que ser aceita por ele é se diferenciar entre todos os demais de sua idade. Enquanto isso, para Arzt, as investidas de Melanie refletem a necessidade de que ainda é um homem desejável e atraente. Porém, se ambos sucumbirem à atração que sentem, haverá a negação de tudo que um projeta no outro. Um ato sexual negaria a inocência da menina e a maturidade do médico experiente. É a encruzilhada desse limite que faz de Paraíso: Esperança um filme bastante diferente dos anteriores. A ideia provocadora permanece na esperança de um de que o outro se renderá, o que só denota o humor ácido da trilogia. No entanto, o paraíso de seus personagens, amparados pelo desejo possam inspirar (independente de estarem acima do peso ou gasto pelo tempo), revela a sutil esperança que toda aquela sensação vai passar. Resta esperar, ou melhor, resistir.
Paradise: Hope (Paradies: Hoffnung / Áustria - França - Alemanha /2013) de Ulrich Seidl com Melanie Lenz, Joseph Lorenz, Verena Lehbauer, Michael Thomas, Arabel Aigner, Vanessa Ecker e Maria Hofstätter. ☻☻☻
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