Benjamín: talento à beira da loucura.
Existem algumas experiências em assistir filmes que são muito interessantes, como por exemplo, ver um diretor estreante fazendo milagres com um orçamento minúsculo, um intérprete tendo a interpretação que mais chama atenção em um filme, assistir vários filmes seguidos de uma mesma nacionalidade... também gosto de descobrir o filme de estreia de um diretor consagrado após ver seu último trabalho. Foi assim que resolvi ver Sinfonia Inacabada (2006) do chileno Pablo Larraín após assistir seu premiado último longa, O Conde (2023). Os dois estão em cartaz na Netflix e embora sejam bastante diferentes entre si, carregam a assinatura autoral de um dos diretores latino-americanos mais prestigiados da atualidade. Sinfonia Inacabada conta a história de Eliseo Montálban (Benjamín Vicuña), ambicioso jovem músico que deseja criar uma sinfonia grandiloquente, mas no meio do caminho as coisas não saem como esperado. É neste ponto que o filme mergulha em cortes que parecem constituídos de ilusões e flashbacks, delírios e memórias, construindo um verdadeiro labirinto mental para o protagonista - e deixando que o espectador seja levado por tudo aquilo. Há quem estranhe a concepção narrativa do filme, mas conforme ele avança se torna cada vez mais interessante. Embora o filme seja costurado pela pelas intenções de um outro músico (Gastón Pauls), que tenta descobrir o paradeiro de Montálban para que a tal sinfonia do título seja finalmente concluída, eu gosto muito mais das cenas em que o protagonista interage com Claudio (Alfredo Castro, um dos atores que sempre que vejo em cena me torno cada vez mais fã), um homossexual que parece estar sempre no limite (enquanto planeja sua fuga do manicômio). Montálban pode ser considerado um artista genial, mas possui tantos fantasmas em sua mente que beira o impossível imaginar a conclusão de sua obra. Embora Larraín deixe a impressão que se perde aqui e ali na complexidade de suas ideias, considero que o último ato o redime de qualquer deslize. É angustiante a ideia que após caminhar em um labirinto, seus personagens cheguem em um beco sem saída, ou melhor, uma ilha no meio do nada - enquanto o compositor perdido encontre finalmente alguma paz. Desde sua estreia, Larraín apresenta seu interesse por personagens complicados, mas embora o filme não tenha recebido muita atenção de público e crítica na época (algo que só foi conquistado mesmo com Tony Manero/2008), o cineasta recebeu o prêmio de melhor cineasta estreante no Festival de Cartagena por esta carta de apresentação.
Sinfonia Inacabada (Fuga / Argentina - Chile / 2006) de Pablo Larraín com Benjamín Vicuña, Gastón Pauls, Francisca Imboden, Alfredo Castro, Alejandro Trejo, Marcial Tagle e Héctor Noguera. ☻☻☻
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