Cauã e Fernanda: o novelão de Cláudio Assis.
O cineasta pernambucano Cláudio Assis realizou uma das estreias mais radicais do cinema brasileiro com Amarelo Manga (2003). Lembro quando assisti ao filme no cinema e fiquei impressionado com as cores fortes de seus estilo. A forma como misturava personagens em imagens vigorosas e que não se incomodava que apresentar o que poderiam ter de mais sórdido. Esta acabou virando a marca do seu cinema que acumulou polêmicas e fãs até hoje e, embora considere que sua estreia (que completou vinte anos) ainda seja sua obra-prima, seu cinema sempre tem algo de interessante a dizer. No entanto, fiquei bastante surpreso com o que ele realiza em Piedade, filme que está disponível na Globoplay. Cláudio reuniu um elenco respeitável para contar a história dos moradores de uma região que está sendo cobiçada por uma grande empresa, a PetroGreen, que está disposta a explorar as riquezas do local, mas para isso precisa lidar com os alguns moradores que não estão dispostos a sair dali. Se existe um grupo de jovens moradores que fazem vídeos denunciando a forma predatória como a empresa trata a natureza local, por outro lado, existe uma família que está dividida sobre o que deve ser feito. A família cuida de uma propriedade que já viveu melhores dias no litoral, mas percebe que cuidar daquele pequeno paraíso vai além de trocá-lo por uma quantia de dinheiro. A chefe da família é Carminha (Fernanda Montenegro) que tem um bocado de lembranças pessoais vinculadas ao local, sobretudo sobre seu falecido esposo. Ela é mãe de Fátima (Mariana Ruggiero) e Omar (Irandhir Santos), que é o crítico mais ferrenho à presenta da PetroGreen naquele local, tendo vários embates com o representante da empresa enviado para lidar com os moradores, Aurélio (Matheus Nachtergaele). Paralelo a isso existe Sandro (Cauã Reymond), um jovem empresário que transformou o velho cinema da cidade num inferninho para encontros sexuais enquanto cuida do filho, Marlon (Gabriel Leone). Quando o roteiro revela que a Cerminha teve um filho desaparecido e Aurélo demonstra saber mais do que diz, a trama se revela digna de uma novela. Considerado por alguns o melhor filme de Assis, Piedade possui alguns elementos que remetem ao restante da obra do cineasta, principalmente na forma como filma as cenas sexuais no trabalho de Sandro, ali é apresentada a destreza do que o diretor sabe fazer de melhor, o problema é quando ele precisa lidar com o melodrama de novelão presente no roteiro. A trama fica previsível e a causa "ecológica" perde fôlego sem muita cerimonia, especialmente no contraste com a performance de Nachtergaele que engole a atuação de uma nota só de Irandhir Santos como uma espécie de líder comunitário que nunca gera a torcida desejada (ele é apresentado como um chato que vive de brisa enquanto seu oponente é muito mais interessante). Piedade possui ainda uma cena emblemática sobre a encruzilhada em que seu diretor criou para si, basta ver a cena de banho de Fernanda Montenegro cobrindo o busto para ver que o diretor estava um tanto indeciso sobre o que fazer na estética da história que tinha para contar (óbvio que eu não queria ver Fernanda sem roupa, mas a forma como a cena é mostrada é apresentada um desconforto do próprio Assis com o que se propôs a fazer). No fim das contas o filme agrada mais pela química inusitada de Cauã e Matheus do que qualquer outra coisa. Vale pela curiosidade de ver os dois juntos nessa novela das nove condensada em hora e meia de duração.
Piedade (Brasil/2019) de Cláudio Assis com Cauã Reymond, Matheus Nachtergaele, Fernanda Montenegro, Gabriel Leone, Irandhir Santos, Denise Weinberg e Mariana Ruggiero. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário