quinta-feira, 28 de setembro de 2023

PL►Y: Elementos

 
Faísca e a família do namorado: amor impossível?

Pode se dizer que 2023 foi um ano estranho para filmes que eram muito aguardados. Houve mês em que todos os projetos que tinham grandes expectativas nas bilheterias amargaram verdadeiros fracassos. No meio disso tudo, surgiu um fenômeno estranho nos comentários sobre o cinema: a ideia de que um filme que tem uma estreia ruim rende um flop. A História já demonstrou que um fator não é garantia do outro. Obviamente que uma boa estreia garante a alegria de todos os envolvidos no projeto, além de projetar um filme como algo digno da atenção de quem ainda não o assistiu na estreia. No entanto, torna-se um erro chamar de fracasso um filme que tem estreia abaixo das expectativas (o primeiro Pânico/1996, por exemplo, foi muito mal na sua estreia e a franquia perdura até hoje). O novo filme da Pixar, Elementos demonstrou isso com louvor. A estreia não deixou ninguém muito empolgado. Foi criada então a ilusão de que as pessoas deixariam para ver o filme no Disney+, algo que se tornou um verdadeiro pesadelo para o estúdio que viu vários de seus projetos estrearem diretamente no streaming. O fato foi que depois de uma estreia mediana, o filme conseguiu chamar atenção nas semanas seguintes, conseguindo alavancar a bilheteria a longo prazo e se tornar um sucesso. O sucesso se repetiu quando o filme chegou nas plataformas digitais e se consagrou como o maior sucesso da Pixar em muito tempo. O estúdio, que foi absorvido pela Disney, precisava muito desse resultado positivo. Pode se dizer que desde o genial Divertida Mente (2015), o estúdio tem patinado em seus projetos que estão longe de ter o brilhantismo de outrora (o filme do solo do Buzz Lightyear lançado ano passado nem gerou vontade de escrever algo sobre). É como se acontecesse com a inovadora Pixar o mesmo que acontece atualmente com a Marvel ao ser engolida pela dona do Mickey e sua turma. Vendo elementos, percebo que mesmo tendo um tema diferente, ele se aproxima muito do que já vimos em Divertida Mente ou em Soul (2020): a ideia de representar algo muito abstrato para os pequenos num universo de fantasia bastante vívido. Antes era a mente de uma criança, depois foi o mundo dos espíritos, agora são os elementos. Ao menos a base de tudo aqui é diferente: a história de amor entre dois jovens que são totais opostos. Eu sei, não soa original, mas ajuda imaginar que são opostos em sua essência. Uma é uma descendente de pessoas do fogo, a Faísca (voz de Leah Lewis) que tem a cabeça um tanto quente, o que atrapalha o fato dela ser a futura herdeira da loja de seus pais. A mocinha tem bastante dificuldade em lidar com sua clientela e, vez por outra, tem um surto. Num desses episódios ela acaba conhecendo Gota (voz de Mamoudou Athie), descendente de outra linhagem elemental: o fogo. Gota é sensível e chorão, assim como toda sua família, mas não é bem visto pelas pessoas do fogo, afinal, todos sabemos o efeito que a água pode ter sobre o fogo e vice-versa. Eis que os dois vão tentar resolver os problemas nos negócios familiares de Faísca e seus pais e gostar cada vez mais um do outro. A história de amor entre os dois é muito bonitinha, explorando os efeitos que um personagem pode ter sobre o outro como uma analogia entre a relação de opostos que se atraem. O visual do filme também é deslumbrante na construção de uma cidade em que vários elementos se misturam e que pessoas do fogo são visto na maioria das vezes como ameaçadoras. No entanto, as habilidades de Faísca deixam bem claro que quando bem manuseado, o calor do fogo pode conceber maravilhas, não por acaso, mesmo as pessoas do fogo sendo vistas com preconceitos durante o filme, aos poucos descobre-se que a grande ameaça aos personagens do filme é a força da água, que também pode ser destruidora. Quando precisa dar conta da relação entre os protagonistas o filme funciona como uma comédia romântica em formato de animação, o problema é o que está em torno deles nunca ser devidamente aprofundado, como o dilema de Faísca com o negócio dos seus pais e o desenvolvimento ralo de todos os personagens que estão em tornos dos principais. Elementos não se compara ao brilhantismo dos grandes clássicos da Pixar, mas tem qualidades que justificam o sucesso do longa entre o público. 

Elementos (Elemental / EUA - 2023) de Peter Sohn com vozes de Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronnie Del Carmen, Shila Ommi, Catherine O'Hara e Joe Pera. 

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