sexta-feira, 8 de setembro de 2023

PL►Y: EO

Lorenzo e Eo: o mundo aos olhos de um burrinho. 

Muita gente ficou surpresa quando o polonês Eo de Jerzy Skolinowski ficou com a última vaga na disputa de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2023, o filme deixou alguns favoritos para trás na disputa pela estatueta (como Holy Spider que concorria pela Dinamarca, Corsage da Áustria e o favorito Decisão de Partir da Coreia do Sul). Skolinowski sempre deixou claro que seu filme tem o ponto de partida inspirado em um clássico do cinema, o franco-sueco A Grande Testemunha (1966) de Robert Bresson que conta a história do burrinho Balthazar desde que era um filhote até a vida adulta. Ao longo da vida, Balthazar passa de dono em dono e testemunha a maldade humana. Pode se dizer que Eo é a versão para o século XXI da mesma história, mas isso seria diminuir o que Skolinowski faz em seu longa, que possui sim, vida própria. Assim como em sua inspiração, existe aqui a capacidade plena de utilizar cenas e ângulos certos para que o espectador projete no protagonista as emoções que ele mesmo sente diante da peregrinação do bicho. Eo é o nome do burrinho que é atração de circo ao lado de sua dona que tem grande carinho por ele, mas por conta de problemas com as leis de proteção aos animais, o circo acaba perdendo seus bichos e começa a peregrinação do personagem sem dono em um mundo em que os animais estão relegados à subjugação das vontades dos humanos. Desde o seu primeiro cativeiro ele observa que as coisas não serão muito boas dali para frente. Ele nem imagina que será espancado, hospitalizado e perdido enquanto situações diversas cruzam seu caminho. De uma situação bondosa que termina em assassinato, da acolhida de um jovem padre que vive uma relação incestuosa com uma mulher mais velha (participação especial de Isabelle Huppert) até o desfecho em que Eo encontra seu destino final num mundo de abandonos e incompreensão, Skolinowski lança um olhar sombrio sobre a humanidade e nossa relação com a natureza, fazendo com que pareçamos tão perdidos quanto Eo. O melhor de tudo é que a narrativa flui muito bem, com ângulos e cortes interessantes, uso de cores fortes e tecnologias, além de uma trilha sonora que enfatiza ainda mais as emoções envolvidas na história. Sempre admiro a capacidade de cineastas contarem histórias do ponto de vista de animais, sabendo transmitir ao espectador as emoções que se esperam de uma trama dessas. Ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes do ano passado, o filme não carrega sentimentalismos ou melodrama, o resultado não chega a ter a radicalidade vista em Deus Branco (2014) de Kornél Mundruczó, mas se Guardiões da Galáxia Vol3 (2023) recentemente foi aclamado por suas analogias com a causa animal, Eo também merece ser lembrado por nos fazer pensar no mundo através do protagonista por quase uma hora e meia. 

Eo (Polônia - Itália /2022) de Jerzy Skolinowski com Lorenzo Zurzolo, Jacek Murański, Mateusz Murański, Sandra Drzymalska, Mateusz Kościukiewicz, Tomasz Organek e Isabelle Huppert.  

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