quinta-feira, 7 de setembro de 2023

PL►Y: Beau tem Medo

 
Joaquin: atuação soterrada em sandices. 

Recentemente o diretor Ary Aster disse em uma entrevista que tem muito orgulho de ter feito Beau tem Medo e que o classifica como seu melhor filme. É sério. Aclamado por seus dois filmes anteriores, os ótimos Hereditário (2018) e Midsommar (2019) - que o colocou no panteão de grandes diretores de terror da atualidade, ao lado de Jordan Peele e Robert Eggers. Fico bastante preocupado imaginando que Aster queira repetir a fórmula do que ele considera ser seu melhor filme. Beau tem Medo é uma grande bagunça. Não vejo nada demais que ele queira ousar e investir em atmosferas diferentes em sua obra (Peele de certa forma fez isso em NOPE/2022 e Eggers também com O Homem do Norte/2022, curiosamente, todos terceiros filmes de seus autores), mas nenhum deles demonstra o descontrole que vemos aqui. A premissa é interessante: Beau é um homem maduro que sofre de problemas de saúde mental. Ele faz terapia e toma medicamentos pelo que parece ser uma mistura de ansiedade com síndrome do pânico. Não bastasse a vida de Beau ser paralisada por estes problemas, ele ainda vive em uma vizinhança que parece um cenário pós-apocalíptico. Assiste no jornal histórias sobre serial killers que estão sendo procurados e assiste brigas e homicídios de sua janela. Não é difícil imaginar que muito do que se vê é produzido pela mente do próprio personagem. O problema é quando ele planeja ir para casa de sua mãe (Patti LuPone) e descobre que em um descuido deixou a chave do lado de fora da porta e ela foi roubada. Assim, ele não pode se ausentar enquanto aguarda um chaveiro que possa ajudar. Sua mãe visivelmente não acredita na história e remoído pela culpa de um acontecimento, ele precisa ir para casa de sua mãe às pressas (vivendo uma série de desventuras). O ponto de partida do filme é interessante e prende a atenção do espectador com a atmosfera que parece uma comédia que brinca com o clima de suspense constante da vida do personagem. O problema é o que vem depois. Beau vive uma jornada do herói com tipos estranhos que vão se acumulando como representações de seus temores, todos poderiam ser muito interessante se o filme não se alongasse por três horas de pretensioso delírio. Maior exemplo do grande desperdício de talento é a parte da peça que é belamente produzida como uma analogia da vida (da que é ou a que poderia ser) do próprio Beau, mas que soa completamente desconjuntada ao ser encaixada no filme (e deixa a impressão que toda sequência poderia ter ficado de fora da versão final). Irregular em seu conjunto, o filme se torna uma obra cansativa e que tem um dos piores desfechos que já assisti. Todos os deslizes poderiam ser perdoados se a parte em que ele chega à casa da mãe fosse tudo o que se promete, mas infelizmente não é. Tive a impressão que Aster divagou tanto sobre a ideia que tinha em mente que se perdeu na hora da conclusão. Tudo soa exagerado, mesmo quando pretende ser dramático ou redentor. Nem o trabalho de Joaquin Phoenix consegue salvar o filme. O ator é um dos mais talentosos em atividade, mas não é milagreiro. Seu trabalho é tão reativo que fica difícil compreender toda a complexidade esperada de Beau. Pelo menos o final de seu personagem deve ter causado algum conforto, seja para ele ou para o espectador que não aguentava mais tanta sandice. Acho que não é por acaso que ele mudou o título de Disappointment Boulevard para Beau Tem Medo. Afinal, a decepção já seria anunciada no título. Não sei o que Ari Aster tomou, mas é bom ele evitar nos próximos anos. 

Beau tem Medo (Beau is Affraid/EUA -2023) de Ari Aster com Joaquin Phoenix, Patti LuPone, Amy Ryan, Nathan Lane, Armen Nahapetian, Parker Posey, Stephen Henderson e Denis Menochet. ☻☻

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