Bardem: o motivo para assistir Biutiful.
Javier Bardem deve ser o maior astro espanhol que se tem notícia, com vários filmes de sucesso mundial (a começar pelo Almodovariano Carne Trêmula de 1997), um Oscar na estante de ator coadjuvante (por Onde os Fracos não Têm Vez/2007) e duas indicações ao Oscar de melhor ator. Na primeira ele já contava com o prêmio em Veneza em seu primeiro filme em inglês, mesmo com o personagem sendo cubado (o escritor Reinaldo Arenas em Antes do Anoitecer/2000). Para ter sua indicação ao Oscar em sua língua pátria, em colaboração com o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu ele contou com a ajuda de uma amiga do porte de Julia Roberts (com quem atuou em Comer Rezar Amar/2010) que promoveu alguns jantares para membros da Academia que seriam capazes de votar por uma indicação do ator de Biutiful (que já havia lhe rendido o prêmio de ator em Cannes) que tinha chances reduzidas por estar fora do prazo para concorrer a uma vaga na categoria por estar em circuito muito restrito. Todo cinéfilo bem informado sabe que Biutiful está longe de ser um filme qualquer, uma vez que juntas duas potências do cinema latino. O nome de Bardem chama a atenção até quando está em bobagens como as protagonizadas por la Roberts, imagine quando seu nome é somado nos créditos ao do aclamado diretor de Amores Brutos (2000), 21 Gramas (2003) e Babel (2006). A propósito, Biutiful marca uma nova fase na carreira de Alejandro, já que brigado com seu parceiro roteirista (Guillermo Arriaga) teve de procurar dar conta da narrativa (aqui contou com ajuda de Nicolás Giacobone) e driblar os excessos de costume que se equilibravam sobre o fio de uma navalha. O maior sinal de mudança é o fato do filme não contar com histórias paralelas que se cruzam (que chegou à sua enésima potência em Babel) ou edição fragmentada. O filme se concentra em Uxbal (Barden) um homem que precisa dar conta dos filhos pequenos, dos problemas com a ex-mulher bipolar (a esquisita Maricel Álvarez) e com um recém diagnosticado câncer terminal. Esse núcleo familiar já daria conta de um belo filme sobre um homem que vive no limite, mas o diretor amplia ainda mais as mazelas do personagem. Não estou nem me referindo ao fato dele poder se comunicar com os mortos (que aparece na trama de forma sutil, mas em cenas bem elaboradas - especialmente a que os mortos aparecem pendurados nas paredes), mas ao tratamento que o filme dedica ao relacionamento de Uxbal em atividades envolvendo imigrantes ilegais. Se Iñárritu dá conta do lado paranormal como um dilema moral do personagem, por outro a situação da ilegalidade parece mal trabalhada, os personagens ficam sempre pelo meio do caminho, ainda que sejam interessantes (o casal de coreanos, a coreana que serve de babá para os filhos de Uxbal e a imigrante que tem o esposo preso) parecem estar ali somente para ampliar ainda mais a tragédia que se anuncia. É inevitável perceber o quanto o texto de Arriaga fez falta na hora de conduzir a trama e coube a Bardem amarrar todas as pontas que pudessem ficar soltas no cenário apresentado pelo filme. Todo mundo sabe que Bardem é um ator excepcional, mas Iñárritu poderia ter caprichado um pouco mais na cadência de seu filme que está longe de possuir a tensão e até a dramaticidade dos seus longas anteriores. Tudo beira o exagero, até a aparência suja dos cenários não ajuda ao querer imprimir a sordidez do universo que Uxbal transita. Existem muitas boas ideias no filme (incluindo o encontro de Uxbal com seu pai falecido), mas faltou capricho na execução, fica difícil pensar que muito do que está ali não é um emaranhado de clichês de filme sarjeta - e o nome Biutiful (numa leitura oralizada da palavra bonito em inglês) parece mais uma ironia do que propriamente uma relação com a beleza de sua história filme. Mas que fique registrado que o que faz a diferença é a atuação colossal de Bardem - que além de bom ator é casado com a Penélope Cruz e não deve ter muito do que reclamar!
Biutiful (Espanha/2010) de Alejandro González Iñarritu com Javier Bardem, Maricel Álvarez e Guillermo Estrella. ☻☻☻
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