Demi e Parker: trajetórias opostas reunidas em filme comum.
Mais um ano está acabando. Fico cada vez mais impressionado em como o tempo passa rápido, implacável (por mais que os banhos de formol que aprendi com mamãe ainda estarem surtindo efeito). Costumo brincar com meus amigos que depois dos quinze anos tudo passa mais rápido. Exemplo disso é que ontem mesmo eu ganhava meu primeiro walkman (me sinto um dinossauro) e minha maior preocupação era a nota de minha prova final em literatura (adoro ler, mas as provas de Goretti eram um desastre). Eu nem senti que se passaram dezessete anos dos meus quinze anos! Na adolescência eu era apaixonado por Demi Moore, ela era o máximo e tornou-se a mulher mais bem paga de Hollywood para se anabolizar e pagar mico em Strip Tease (1996). A morena foi dona de uma beleza notável enquanto seu talento era bem modesto. A vida acabou nos afastando, ela se separou de Bruce Willis, ficou um tempo sem fazer filmes e retornou em 2003 como a vilã da continuação do blargh As Panteras Detonando (2003). O mais impressionante é que enquanto eu ralava na faculdade, o tempo não passou para Demi. Ela continuava linda e agora com um marmanjo adolescente com nome de goma de mascar (Ashton Kutcher). Traidora! Talvez por isso desde que retomou sua carreira eu só vi um filme de sua retomada (Bobby/2006). Apesar da beleza intacta (às custas de plásticas, musculação e toda variedade de cremes que possa imaginar) Demi está longe de ser a estrela da década de minha adolescência. Eu a reencontrei dia desses nas prateleiras da locadora com a dramédia Lágrimas de Felicidade de Mitchell Lightenstein, filme que chegou a concorrer a prêmios em Berlim em 2010 e que chegou por aqui direto para as locadoras. Antes devo admitir que trai Demi, não aluguei o filme por causa dela, mas por causa de sua parceira de cena: Parker Posey. Enquanto Demi encarava super produções na década de 1990, Parker se consolidava como a rainha dos indies. Apesar de sua carreira nunca ter decolado, Posey tem sua coleção de sucessos e vê-la deixando Demi como coadjuvante é no mínimo curioso. Posey e Demi são duas irmãs de situações financeiras e casamentos bem diferentes, mas estão às voltas com um pai (Rip Torn) que está ficando senil - cuidar dele as leva a rever suas vidas. Enquanto Jayne (Parker Posey) é uma deslumbrada casada com um artista plástico, Laura (Moore) é meio riponga casada com um massagista e que se ressente de ter protegido a irmã sobre os podres da família (acho que ela chega à conclusão de que lidar com esses percalços teriam tornado Jayne mais madura). As duas atrizes funcionam como água e azeite, nunca se misturando muito bem na tela, mas talvez o efeito desejado fosse esse mesmo. Além disso, os dramas familiares sobre colocar um pai comprometido mentalmente no azilo já foram vistos e melhores explorados em A Família Savage (2007), então o que sobra no filme? O curioso tom datado da narrativa, que parece saída da década de 1980 - com uma ingenuidade que chega ao ápice nos delírios de Jayne envolvendo compras de botas, o filho de adolescente de um amigo da família e a ressurreição de sua mãe. Mas de dez anos se passaram do início do século XXI e Lightenstein faz filme como se vivesse mais de vinte anos atrás. Talvez por isso existam sérias limitações na abordagem do tema (que tenta ser uma espécie de mosaico sobre aquela família comum como tantas outras), mas o elenco faz o que pode para manter o interesse do público. Para terminar, foi bom perceber que mesmo vestindo roupas esculhambadas Demi continua bonita, mas me assustou um bocado ver que Ellen Barkin (que interpreta a enfermeira picareta do pai das moças) virou quase um monstro das plásticas. Banhos de formol não funcionam para todos.
Lágrimas de Felicidade (Happy Tears/EUA-2009) de Mitchell Lightenstein com Parker Posey, Demi Moore, Rip Torn, Ellen Barkin e Christian Camargo. ☻☻
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