César e Will: encontro entre filho e ...pai?!
Faz tempo que Hollywood estava com vontade de revitalizar a franquia Planeta dos Macacos (iniciada em 1968), afinal, além do filme original ser um clássico, a ideia bem sacada envolvendo contornos apocalípticos sempre chama a atenção. Não vou nem mencionar que considero a série inicial bem amarrada e cumprindo bem o seu papel de ficção científica na década de 1970. Porém, a última tentativa de reciclar a franquia foi pífia. Até o fã mais ferrenho de Tim Burton deve concordar que o cara errou feio quando realizou a refilmagem de Planeta dos Macacos em 2001 (e o resultado só não é o pior filme do cineasta poque recentemente ele fez aquela malajambrada versão de Alice no País das Maravilhas). Apesar de todo o esmero na maquiagem dos atores e os efeitos especiais, o resultado era mais confuso do que empolgante. Curiosamente o novato Rupert Wyatt (que tinha no currículo apenas um filme independente) conseguiu reciclar as ideias da série dando vida própria ao seu Planeta dos Macacos - A Origem. O filme se concentra na vida de César (em impressionante atuação de Andy Serkis a partir da tecnologia de captura de movimentos), um símio nascido em laboratório que carrega os efeitos dos experimentos à que sua mãe era submetida. Ela servia de cobaia para experimentos de combate ao mal de Alzheimer liderados pelo jovem Will Rodman (um compenetrado James Franco) que pretende curar o pai que sofre da doença. No entanto, alguns acontecimentos colocará em risco as pesquisas e a vida do pequeno César que vai viver com Will e seu pai (o veterano John Lithgow), mostrando-se cada vez mais inteligente do que os outros de sua espécie. Conforme César observa os humanos, adquire hábitos semelhantes aos deles (como usar roupas, comer à mesa) ao mesmo tempo que tenta conter seu lado selvagem, vivendo o conflito entre ser um animal de estimação ou acreditar que Will o trata feito um filho. A partir daí César irá reavaliar o seu lugar no mundo e tornar-se um líder de sua espécie que pretende ser tratada com mais respeito pelos homens. Embora considere que o filme precisa respirar em meio à sua edição frenética repleta de efeitos impressionantes, trata-se de um grande acerto da temporada pipoca deste ano. Acho que muita gente nem se deu conta que o filme funciona perfeitamente como uma fantasia sobre o conceito de intelectual orgânico de Gramsci (não vou me aprofundar em filosofices, mas César é um ser que encontra seu lugar no mundo ao reconhecer as necessidades de seus semelhantes e passa a lutar para libertá-los), mas os carentes de pipoca de qualidade nem precisam saber disso para entender o filme. O roteiro é bem construído e constrói um protagonista sólido em meio aos dilemas morais de seus personagens - mas não perde de vista a mitologia que lhe deu origem tendo citações à série original (o nome do personagem de Tom Draco Malfoy Felton, a macaca chamada Cornélia, a matéria no jornal sobre astronautas perdidos no espaço...) e um subtexto sutil que permite a continuação da saga (o vírus misterioso) ainda mais amparada pelo sucesso de público e crítica. Acho que ainda merece ser ressaltada a elegante forma encontrada pelo diretor de encaminhar durante os créditos o pontapé inicial para a sequência, portanto, não desligue o DVD quando achar que a sessão terminou. Com tudo isso, o que mais impressiona é que a saga construída a partir do livro francês de Pierre Boulle permanece forte no imaginário da cultura pop.
Planeta dos Macacos - A Origem (Rise of the Planet of the Apes/EUA-2011) de Rupert Wyatt com Andy Serkis, James Franco, John Lithgow, Freida Pinto, Bryan Cox e Tom Felton. ☻☻☻
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