Jazira e seu pai: violência & falta de diálogo.
A vida de Alan Ball mudou radicalmente depois que ele recebeu o Oscar de roteiro original por Beleza Americana (1999), dificilmente sem um roteiro tão bem elaborado em descascar seus tipos comuns o filme seria tão premiado. Se desde então a carreira de Ball ficou famosa por estar por trás de séries aclamadas como A Sete Palmos e True Blood, no cinema sua estreia na direção era inevitável. Para a tarefa escolheu a obra de Alicia Erian sobre uma adolescente, filha de um libanês e uma americana que além dos turbilhões hormonais da idade ainda tem que lidar como uma série de situações delicadas: a descoberta da sexualidade em meio a educação castradora do pai e os assédios de um vizinho mais velho e casado. A obra de Erian cai como uma luva para o texto de Ball, que mais uma vez prefere ler as entrelinhas na vida confortável de um subúrbio americano (especificamente do Texas), explorando contradições, anseios e frustrações com o auxílio de um elenco dedicado. O problema maior de Ball é que lhe faltou sutileza nos primeiros momentos de seu filme de estreia. A vida de Jazira (a ótima Summer Bishi) por mais que seja complicada corre o risco de não comover o público devido aos momentos exagerados no início do filme. Logo nas primeiras cenas é sugerida uma intimidade suspeita entre a menina e o seu padrasto (Chris Messina), o que acaba acarretando que a mãe (Maria Bello) a despache para morar com o pai repressor (o assutador Peter Macdissi). Não vai demorar para menina levar um tapa na cara, ser vítima de perseguição na escola (afinal a trama se passa pós 11 de setembro e diante da invasão do Iraque) e depois ela será molestada pelo vizinho com pinta de galã (Aaron Eckhart) - isso tudo em menos de uma hora de projeção. Se você sobreviver a esse início hardcore, você poderá até gostar do ritmo adequado que Ball alcança logo a seguir, mostrando que todos esses acontecimentos fazem com que Jazira saiba manipular quem está ao seu redor para ter um pouco mais de sossego (ela não demora a aperceber que eles não primam pela esperteza, desde a namorada avançadinha do papai ao namorado negro que também sofrerá preconceitos por parte dos pais de Jazira). Ball radicaliza os horrores do subúrbio, sem fazer concessões ou amenizar situações pouco agradáveis para o espectador (e por muito pouco não deixa tudo cair na caricatura), alguns podem ver isso como um mérito, outros como um defeito, mas o que o filme propõe é que o diálgo é fundamental em qualquer relação. O autoritário pai de Jazira, por mais que queira protegê-la, só assusta a menina que resolve viver suas sensações de forma silenciosa (e que acarreta uma das cenas mais violentas do filme). No entanto, a polêmica maior do filme é a forma como o personagem de Aaron Eckhardt é mostrado. Sedutor, ele ora posa de vítima, ora de culpado, mas sem dúvida trata-se de um sujeito desprezível. A voz da consciência em meio às tragédias de Jazira vem da acolhedora vizinha Melina (vivida por Toni Collete). Grávida e com o instinto materno à flor da pele, Melina percebe que a garota corre risco nas garras do vizinho e acaba tendo de protegê-la da fúria paterna. Claro que ao invés de ser um dramalhão, Ball capricha para que seu filme tenha um humor negro, ácido e incômodo, mas ao contrário de Beleza Americana oferece um final otimista para seu personagem com a eminência de uma nova vida que chega. Apesar das atuações marcantes, Ball fica devendo uma narrativa mais equilibrada entre os atos de sua estreia como cineasta.
Tabu (Towelhead/EUA-2007) de Alan Ball com Summer Bishi, Peter Macdissi, Aaron Eckhart, Toni Collete e Maria Bello. ☻☻☻
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