Bell: dançando contra os preconceitos.
Stephen Daldry já era um sujeito consagrado nos palcos londrinos. Hoje, seu nome já está associado a mais de uma centena de produções e sua capacidade de contar histórias só esperava o tempo certo para migrar para o cinema. Este movimento do teatro para os palcos aconteceu em 2000, quando Daldry lançou Billy Elliot, um filme modesto, mas de simpatia ímpar ao lidar com temas espinhosos com uma leveza desconcertante! A trama se passa durante a década de 1980, durante o governo da ministra Margareth Tatcher que atravessou um momento delicado com a greve de carvoeiros. Billy Elliot (o ótimo Jamie Bell, indicado ao Globo de Ouro pelo papel) é órfão de mãe e filho de um carvoeiro rude e sabe que o destino lhe reserva destino semelhante, já que seu irmão mais velho já trabalha nas minas. Enquanto a família matricula o menino de onze anos numa aula de boxe (a qual ele não leva o menor jeito), Billy começa a prestar cada vez mais atenção às aulas de balé que acontecem ao lado. Por curiosidade acaba freqüentando as aulas e despertando a atenção das meninas e principalmente da professora (numa atuação inesquecível de Julie Walters, indicada ao Oscar de coadjuvante). A professora durona percebe que o moleque tem um talento bruto para a coisa e precisa ser lapidado, mas para lapidar a dupla terá que lutar contra uma série de preconceitos – afinal, não são poucos que acham que balé não é coisa para homem. Os conflitos na família de Billy são inevitáveis e a tensão causada pela greve nas minas não facilita as coisas – e o roteiro tem grande habilidade ao mesclar a trajetória de Billy ao movimento dos carvoeiros. Considero fascinante a forma como ambos os movimentos são marcados pela intenção de transformar, de melhorar as condições de suas vidas tão marcadas pela dureza da rotina cotidiana. O filme poderia cair facilmente no melodrama (e alguns críticos até acham que cai mesmo), mas Daldry consegue manter a elegância em cada parte do filme com atuações dedicadas, excelente trilha sonora com a nata do rock inglês do período (T-Rex, Clash, The Jam) e edição competente. Porém, apesar de todos os méritos (que deram a Daldry sua primeira indicação ao Oscar no seu filme de estréia) o filme teria bem menos fôlego se não contasse com a inspirada atuação do então menino Jamie Bell. Bell atua feito gente grande e o mais curioso é que sua trajetória acaba se confundindo com o personagem. Nos extras do DVD ele conta como foi escolhido entre centenas de criança para fazer o filme, algo impensável para um inglesinho de origem proletária. Sem nunca ter dançado balé, seu esforço e dedicação lhe valeu o reconhecimento em diversas premiações e cravou seu nome na história do cinema em cenas onde transmite todos os conflitos internos de Billy dançando. Há quem reclame do diretor substituir Jamie num salto temporal em que o personagem aparece adulto, mas a vida é assim, não importa o quão irresistível você seja quando pequeno: crescer é inevitável. Curioso é que depois do sucesso nas telas, o filme deu origem a um musical de sucesso na Inglaterra, que já está há anos em cartaz sob a assinatura de Daldry.
Billy Elliot (Reino Unido/2000) de Stephen Daldry com Jamie Bell, Julie Walters, Gary Lewis e Jamie Draven. ☻☻☻☻
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