Dunst: rainha fashion.
Kirsten Dunst ganhou o prêmio de Melhor atriz em Cannes desse ano por sua atuação deprimente em Melancolia (2011), a grande ironia disso tudo é que anos atrás ela foi espinafrada por encarnar a rainha adolescente Maria Antonieta (aquela mesma dos brioches) quando o terceiro filme de Sofia Copolla foi exibido em Cannes). Entre um e outro a atriz atravessou um quadro de depressão (que deve ter ajudado a compor sua personagem no recente longa de Lars Von Trier). Antes de trabalhar com Sofia em Maria Antonieta, Kirsten trabalhou com a cineasta em seu filme de estreia, o melancólico As Virgens Suicidas (2003) colhendo elogios e dando projeção a uma diretora estreante que precisava provar ser dona de um estilo próprio, distante da grandiloquência do pai Francis Ford. Depois da aclamação absoluta com Encontros e Desencontros (2006), Coppola retomou a parceria com Dunst em seu filme mais ambicioso. Eu mesmo fiquei assutado quando soube que a diretora iria dirigir uma biografia da rainha francesa. Assim como eu, muitos devem ter pensado que Coppola filha iria se render a mais um filme de época tradicional disposta a ganhar outro Oscar. Não foi bem assim. Quando o trailer foi liberado com trilha rock dos anos 1980, figurinos exuberantes e Marie Antoinette escrito em tons gritantes, percebemos que seria mais um filme com a assinatura estilosa de Sofia. Azar de quem pensou diferente. Baseado na biografia escrita pela historiadora Antonia Fraser, Coppola conta uma história diferente de uma das rainhas mais odiadas dos livros de história. O viés para isso é bem simples: tratava-se de uma adolescente e portanto, imatura para saber o que estava fazendo ao assumir o trono da França - ao casar-se com Luís XVI (o primo Coppola Jason Schwartzman). Ao invés de se concentrar em intrigas palacianas, Coppola se preocupa com a busca de uma imagem mais humana da personagem histórica do século XVIII.. Maria Antonieta é mostrada realmente como uma deslumbrada com seus inúmeros vestidos, cabelos elaborados, festas e quitutes, mas atire a primeira pedra quem for uma adolescente que não faria a mesma coisa ao ser afastada da família na Ucrânia (até do cãozinho de estimação) e ter todas as regalias que uma rainha pode ter? O estilo de vida deliciosamente fútil pode ainda ser interpretado como uma fuga da pressão que Marie sofria em dar um herdeiro para o trono francês diante da, digamos, resistência do rei "praticar" o casamento. A principal ousadia de Sofia não brota do humor que brota de situações como o rei e a rainha sendo acordados por seus serviçais (que inclui uma ótima Judy Davis e um acolhedor Steven Coogan), ou das crianças da corte vestidas feito adultos, mas do fato de adotar um estilo anacrônico para contar sua história. Além da trilha com canções pop contemporâneas (Strokes, Siouxie & The Banshees, New Order...) a diretor chega a colocar um All star entre os sapatinhos de sua rainha. Parecendo ser voltado para os adolescentes e descolados, o filme desagradou um bocado de adultos que buscava um filme mais tradicional. Quem conhece o cinema de Sofia, sabe que de tradicional ele não tem nada. Marcados pelas entrelinhas, seus longas costumam deixar sua mensagem de forma mais sutil, por conta do espectador mesmo, e nesta biografia de direção de arte, fotografia e figurinos exuberantes a mensagem é que apesar de toda essa casca, Antonieta era uma garota da nobreza como outra qualquer do seu tempo. O problema é que ela estava à frente de uma nação ao lado de um rei jovem e não muito apto para o cargo. Sofia evita polêmicas e mostra que a rainha teve apenas um caso extra-conjugal (Conde Versen, vivido pelo galãzinho Jamie Dornan) e era uma mãe atenciosa apesar da fama de ser "fria pela cultura de seu país de origem". Paralelamente a vida dos sonhos vivida no castelo, o filme dedica poucas linhas para a crescente revolução francesa que ocorria fora do castelo e ao chegar a cena derradeira da personagem, Sofia opta por um final elegante e coerente com sua obra. Indigno do massacre, Maria Antonieta é um filme de encher os olhos e os ouvidos e Kirsten Dunst tem uma atuação que pode não ser brilhante, mas é correta como a jovem rainha que se deslumbra e sente-se esmagada pela vida de rainha. Apesar de todos os seus menosprezados méritos (mesmo ganhando o prêmio da Educação para a Juventude em Cannes) o que mais impressiona no filme é o oscarizado figurino de Milena Canonero em tons pastéis. Mesmo sendo de época, trata-se de um dos filmes mais fashion de que se tem notícia (conheço um bando de garotas que usariam facilmente aqueles vestidinhos).
Maria Antonieta (Marie Antoinette/EUA-França-Japão/2006) de Sofia Coppola com Kirsten Dunst, Jason Schwartzman, Judy Davis, Steve Coogan e Asia Argento. ☻☻☻☻
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