Saoirse: não, não se trata de Kick Ass.
É triste ver o diretor Joe Wright perder a mão gradativamente em seus filmes. O jovem cineasta inglês ficou famoso pela forma como conseguia fazer o cinemão clássico rimar com uma narrativa moderna e atraente para o público em geral. Foi assim quando deu à Keira Knightley sua preciosa indicação ao Oscar em Orgulho e Preconceito (2005) e quando ganhou o Globo de Ouro de melhor filme com Desejo e Reparação (2007), além de várias indicações ao Oscar. O problema é que a partir daí o diretor se meteu a fazer o que todo mundo já faz no morno O Solista (2009) e liquida os pontos que lhe sobraram com este sonolento Hanna. Se em O Solista a vontade era ser um drama contundente (e o resultado era apenas chato), desta vez o Wright quis ser moderninho e nada mais - o que é o sepultamento do diretor que era no início. Sobra edição frenética, trilha eletrônica, ação elaborada, mas falta um roteiro que preste para sustentar as atuações de artistas prestigiadas como Saoirse Ronan e Cate Blanchett. A trama gira em torno de uma adolescente criada para ser uma máquina mortífera (Saoirse) pelo pai (Eric Banna, sempre com o tom abaixo do ideal). Vivendo em isolamento, desde o início ficamos sabendo que tanto afinco no treinamento é para uma vingança eminente e o alvo em potencial é a vilã interpretada por Cate Blanchett. Embora as atrizes sejam competentes, o roteiro não ajuda em nada, em algumas cenas até atrapalha com diálogos bobos e citações à obra dos irmãos Grimm que não ajuda em nada o andamento da trama. Os cenários parecem emprestados de algum outro filme que já vimos antes, as soluções do roteiro são apressadas e subaproveitadas e a trilha sonora que deixou alguns críticos babando nada mais é do que mais do mesmo que Chemical Brothers já fez dezenas de vezes. A falta de assunto é tanta que você pode encontrar dezenas de sinopses sobre o filme na internete. Achei uma que dizia que o filme mostrava a dificuldade de uma adolescente criada para ser uma assassina em ter uma vida normal, outro dizia que era uma adolescente em busca de seu passado desconhecido, outra que era uma trama de vingança e espionagem... ao final da sessão Hanna não parece combinar com nada disso. É apenas um emaranhado de música eletrônica, edição picotada e as ideias para um filme arrastadamente pretensioso. Se antes Wright demonstrava que era capaz de conjugar histórias complexas com modernidade, aqui ele demonstra que é capaz de fazer um filme sem história nenhuma. O filme só não é pior por contar com Ronan (que deve ter topado esse mico por gratidão ao diretor que a revelou) e Blanchett como inimigas mortais. Ciente de que anda nos devendo um filme decente, Wright está rodando uma nova versão de Anna Karenina estrelada por Jude Law, Aaron Johnson, Kelly MacDonald, Matthew MacFadyen, Emily Watson, Olivia Williams e sua musa (amuleto da sorte) Keira Knightley no papel título. Juntar um elenco desses prova que, apesar dos tropeços o cara ainda é capaz de se redimir.
Hanna (EUA-Reino Unido- Alemanha/2011) de Joe Wright com Saoirse Ronan, Cate Blanchett, Eric Banna e Tim Beckman. ☻
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