Ricky: o anjo da guarda da família?
Mantendo a média de quase um filme por ano, François Ozon é um dos raros diretores franceses que garantem a chegada de seus filmes em nosso cinemas. Está certo que eles costumam chegar com atraso, mas seu fã-clube (que não é pequeno) agradece. Quem acompanha a carreira do diretor deve ter notado uma mudança de tom em seus filmes mais recentes, quem estava acostumado ao tom ácido de Gotas d´água em Pedras Escaldantes (2003) e Swimming Pool (2003), ou a tristeza de Sob a Areia (2000) e O Amor em 5 Tempos (2004) tem que se contentar com histórias mais brandas como do recente Potiche (2010) e deste Ricky. Ricky é quase uma fábula, quase porque o diretor sempre imprime um tom realista aos seus filmes, mesmo quando trata do nascimento de um anjo. Ou será que Ricky não é um anjo? Ricky é um lindo bebê que nasce do namoro de Katie (Alexandra Lamy), uma operária francesa, com Paco (um rechonchudo Sergi López). Os dois começam a morar juntos quando ela descobre a gravidez e a pequena filha de Katie, Lisa (Mélusine Mayance) começa a ter seus próprios dilemas diante da nova estrutura familiar - qual será o seu lugar na casa com o nascimento do irmãozinho e a presença do padrasto? A chegada de um bebê sempre mexe com uma família e quando as coisas começam a se ajeitar Ricky começa a aparecer com hematomas nas costas e compromete a estabilidade da família. As coisas só pioram quando descobre-se que não eram hematomas, mas asas que nasciam no bebê. Asas mesmo, como de um frango depenado que aos poucos recebem suas primeiras penugens. Apesar de contar a história com tom de realismo fantástico, o diretor evita que a mãe entre contato com médicos num primeiro momento, como se ela adivinhasse que a imprensa logo saberia da existência de Ricky e algo pior pudesse acontecer. Cenas como do bebê voando pela casa e pelo supermercado podem até dar um contorno de comédia para o filme, mas Ricky é um drama familiar sobre laços que precisam ser fortalecidos. Suas asas e presença angelical funcionam mais para agregar novamente os membros da família do que para o deslumbramento dos espectadores - isso fica bem claro no final quando o bebê surge como uma intervenção divina num momento crucial da vida da mãe e o abraço singelo de Lisa em Paco ao ira para a escola. Só um desavisado acharia que François Ozon deixaria a mão mais leve e entregaria algo convencional, apesar de faltar substância em Ricky, o filme é uma obra despretensiosa na cinematografia de um diretor que adora humanizar as dores de seus personagens, mesmo que sem tanta intensidade como vemos aqui.
Ricky (França/Itália - 2009) de François Ozon com Alexandra Lamy, Sergi López e Mélusine Mayance. ☻☻☻
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